O ex-presidente do Banco Central Europeu Mario Draghi aceitou nesta quarta-feira, 3, a incumbência de formar um governo de emergência na Itália, depois que fracassaram as negociações políticas para reeditar o Executivo de Giuseppe Conte.
"É um momento difícil, o presidente relembrou a dramática crise sanitária e seus graves efeitos na vida das pessoas, na economia e na sociedade. A emergência requer soluções à altura. Respondo positivamente à convocação do presidente", disse Draghi, após se reunir com o chefe de Estado italiano, Sergio Mattarella.
O presidente apresentou a missão para enfrentar de forma imediata a crise econômica e a pandemia da covid-19, como uma alternativa para a realização de novas eleições.
Draghi deverá constatar se conta com a maioria no Parlamento, uma tarefa indicada como difícil, pois a maior força, o Movimento 5 Estrelas (M5S), que perdeu o governo, já adiantou que não o apoiará, assim como a extrema direita.
Para sair da crise, o presidente italiano optou por um governo que classificou como "de alto perfil e institucional", encarregado a um técnico, como Draghi, que tem muito prestígio na Itália, e fez um chamado para que todos os partidos que têm cadeira no Parlamento apoiá-lo. Mattarella é o único que, pela Constituição, designa o primeiro-ministro ou dissolve o Parlamento.
O indicado a primeiro-ministro aceitou a incumbência com reservas, como indica o protocolo, e agora terá de negociar com as diferentes legendas, já iniciando as conversas com um pedido de "unidade e diálogo", para dar "uma resposta responsável e positiva".
Na Itália, no entanto, o contexto é de intensos embates políticos, o que deverá tornar a missão de Draghi difícil.
O Partido Democrata (PD), de centro-esquerda; o Itália Viva, de centro; o Força Itália, do conservador Silvio Berlusconi; entre outras legendas menores, de centro, já manifestaram apoio ao indicado por Mattarella.
Um dos líderes da extrema direita, Matteo Salvini, também anunciou publicamente a preferência por novas eleições, embora admita esperar os planos do eventual governo.
Draghi deverá começar a trabalhar em um programa e na formação de uma equipe de ministros. Depois disso, iniciará rodadas de consultas com os partidos, para buscar apoio.
Se obter o respaldo necessário, será o momento de voltar a se encontrar com Mattarella, para aceitar o cargo de maneira definitiva e fazer o juramento no cargo, antes de se submeter ao Parlamento, que deverá confirmar seu nome como primeiro-ministro.
Apóstolo das elites
Considerado o salvador da zona do euro em 2012, quando a crise da dívida atingiu a economia do velho continente, Draghi, de 73 anos, desencadeia reações mistas entre a classe política.
O prestigioso economista espera repetir, no entanto, a chamada "fórmula de Ursula" que levou à eleição da atual presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, graças à união de várias forças políticas.
Conhecido por sua discrição, seriedade e determinação, Draghi espera reviver a economia em dificuldades da Itália graças a um gigantesco plano de mais de 200 bilhões (cerca de R$ 1,2 bilhão) financiado pela União Europeia.
A covid-19, que já custou a vida a quase 89 mil pessoas no país, causou uma queda no Produto Interno Bruto de 8,9% em 2020, uma das piores quedas na zona do euro.
A nomeação de Draghi, que é uma personalidade acima dos partidos políticos, foi recebida com entusiasmo pela Bolsa de Valores de Milão. As ações de bancos registravam alta de 3% por volta do meio-dia. (Com agências internacionais)