Com nomes de estilos bem diferentes, como Nação Zumbi e Maria Gadú, a primeira noite do Festival MPB, no Recife, aparentemente não atraiu o público esperado para o evento neste sábado. A produção anunciou que 15 mil ingressos foram vendidos para cada uma das noites da festa, mas a sensação é de que, se essa quantidade de gente realmente passou pela área externa do Centro de Convenções, foi para assistir ao seu artista preferido e partido logo em seguida – o que não seria de todo estranho, dada a diferença de estilo dos públicos.
Além de Gadú e Nação, ainda passaram pelos dois palcos do festival Arnaldo Antunes, Banda do Mar, Tibério Azul, Mombojó, em uma apresentação com o pianista Vitor Araújo, e Gilberto Gil junto a Marisa Monte, o encontro mais esperado e o único momento que conseguiu reunir na frente do palco todos os públicos presentes na noite.
Sozinho, Gil começou o show às 23h e só depois de cantar Palco e No woman no cry é que Marisa fez sua aparição. “Vamos logo começar cantando uma música do Gil e do Caetano que eu gravei”, anunciou antes de Panis et circenses. Ao todo, 15 músicas foram tocadas em um espetáculo com um set list sem grandes surpresas e priorizando as composições que fazem parte do repertório dela.
Nos bastidores, depois do encontro no palco, Gilberto Gil comentou que o show foi um resgate de uma apresentação que os dois fizeram juntos em Munique, em 1993, em um concerto que homenageou vários esportistas – um deles, Ayrton Senna, um ano antes da sua morte. “Nessa época ela já estava produzindo o disco Verde, Anil, Amarelo, Cor-de-Rosa e Carvão, que ela lançou em 1994 e que eu participei”, relembra Gil, que no show tocou Balança Pema e Dança da Solidão, as duas faixas do álbum dela em que ele participa.
“Uma coisa que eu lembrei a Marisa, já vindo para o Recife, foi o fato de que 13 de dezembro é aniversário de Luiz Gonzaga e, como a gente estava na terra dele, sugeri que fizéssemos uma homenagem cantando o Xote das Meninas, que é uma música que eu regravei, ela, também, e que está no repertório de nossas apresentações”, explica Gil, que recebeu no palco o sanfoneiro cearense Waldonys, também parceiro de Gonzaga. Mas o momento que rendeu mais celulares ao alto e selfies viradas para os músicos foi o reencontro tribalístico da noite.
A convite de Monte, Arnaldo Antunes cantou com a dupla Velha Infância e Passe em Casa, relembrando a parceria com Marisa Monte e Carlinhos Brown, no disco lançado em 2002. Nos bastidores, havia ainda a expectativa – frustrada – de que ela cantasse no show da Nação Zumbi, já que Pupillo, Lúcio Maia e Dengue, músicos da banda, a acompanharam em toda a turnê Verdade, uma ilusão, e também porque ela gravou com eles a faixa A melhor hora da praia, que entrou no álbum que a banda lançou este ano.
Com performances rápidas e sem bis – exceto no momento da Nação Zumbi, última atração da noite -, todos os shows priorizaram os hits dos artistas, como na apresentação da Banda do Mar, que também tocou músicas de Los Hermanos e dos trabalhos solo de Marcelo Camelo e Mallu Magalhães. Fora isso, os únicos momentos de fuga do protocolo de performances foram as projeções do manifesto do movimento político Ocupe Estelita, quando a Mombojó estava no palco, e também quando Seu Jorge, atração deste domingo do festival, tocou flauta em Quando a maré encher, com a Nação.
Organizado por Flora Gil, Carla Bensoussan, Augusto Acioli e Juliana Cavalcanti, o Festival MPB deve chegar a outras capitais ainda no primeiro semestre de 2015. São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília devem ser as próximas cidades a receber o evento, que trouxe toda a sua estrutura de palco e iluminação da capital paulista. Pontual em todas as apresentações e sem problemas de som, o festival não teve contratempos em sua organização – exceto no quesito higiene dos banheiros e ausência total de lixeiras no espaço, este último, de longe, o campeão de reclamações.
Neste domingo tocam Caetano Veloso, Lenine, Seu Jorge, Ana Carolina, Preta Gil, Nena Queiroga, e Mamelungos & Vanessa Oliveira. Os ingressos custam R$ 130 para a Arena e R$ 400, para o lounge.