Variedades

Masp exibe imagens dos pioneiros da fotografia experimental

Em funcionamento até hoje, o Foto Cine Clube Bandeirante, fundado em 1939, acompanhou o processo embrionário da moderna fotografia brasileira e revelou pioneiros da foto abstrata no Brasil, como Geraldo de Barros (1923-1989) e Thomas Farkas (1924-2011), dois nomes históricos da mesma geração de German Lorca, ainda ativo, aos 93 anos. No ano passado, o Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (Masp) recebeu do clube, em regime de comodato, 275 fotos, todas exibidas em salões promovidos pela instituição e publicadas em revistas especializadas. Elas estão reunidas na exposição Foto Cine Clube Bandeirante: do Arquivo à Rede, que o museu abre nesta quinta, 26, às 20 horas, para convidados (e nesta sexta, 27, para o público), com curadoria de Rosângela Rennó, curadora adjunta de fotografia da instituição.

A mostra ganhou ainda quatro outras fotos doadas por particulares. No total são, portanto, 279 fotos de 85 artistas, todos integrantes do Bandeirante, alguns conhecidos, como um dos seus fundadores, o advogado Eduardo Salvatore (1914-2006), que presidiu o clube de 1943 a 1990, e outros hoje lembrados apenas por especialistas na área. Entre os primeiros, cabe destacar a presença do alemão Fredi Kleeman (1927-1974), também ator do TBC que deixou registros fotográficos de montagens históricas da companhia teatral, Gaspar Gasparian, José Oiticica Filho, José Yalenti, Madalena Schwartz, Raul Eitelberg, Roberto Yoshida, Rubens Teixeira Scavone, Takashi Kumagai e Valêncio de Barros, além dos nomes citados no primeiro parágrafo.

Como se vê pela lista, a exposição tem desde adeptos do pictorialismo, que caracterizou a primeira fase do fotoclubismo no Brasil – Valêncio de Barros, entre eles – até os primeiros modernistas que, estimulados pela evolução da arquitetura, o desenvolvimento econômico e o intercâmbio com artistas trazidos pela Bienal de São Paulo no começo dos anos 1950, introduziram a foto abstrata no Bandeirante. “A ideia da exposição não foi criar uma hierarquia entre eles, mas reconstituir um salão da época”, explica a curadora. Até por ter sido um celeiro de fotógrafos experimentais, a predominância, na mostra, é da fotografia abstrata, que explora, como os construtivistas, a relação com as formas geométricas da arquitetura e o contraste entre luz e sombras.

A curadora decidiu usar na mostra um sistema modular de painéis criados na década de 1940 pela arquiteta Lina Bo Bardi, autora do projeto do Masp, para reforçar o conceito de arquivo. “Não faria sentido usar molduras individuais, pois os salões do clube exibiam as fotos de maneira simples”, justifica. Mas, como algumas dessas cópias circularam muito por salões nacionais e estrangeiros, o estado de uma ou outra é precário. “Assim, agrupamos os painéis lado a lado, com uma pequena inclinação, e usamos uma lâmina de vidro para a proteção das obras.”

Há na mostra fotos mais recentes – a exposição vai até a década de 1980 – e coloridas, caso de Raul Eitelberg, que chamou a atenção da curadora por suas montagens, que recorrem a uma mise-en-scène antinaturalista. “Suas fotos parecem tableaux vivants, têm algo relacionado à nouvelle vague”, analisa. Outro que nadou contra a corrente da geometria, segundo a curadora, foi Roberto Yoshida, autor de fotomontagens surrealistas em table top.

Na linha dos bandeirantes abstratos e arquitetônicos ela destaca Ivo Ferreira dos Santos, que transforma imagens de vergalhões em formas geométricas distorcidas. Até mesmo o Bandeirante, na passagem dos anos 1940 para 1950, teve dificuldades para aceitar experiências radicais como as dele, de Geraldo de Barros e Thomas Farkas. Mas o tempo se encarregou de legitimar seus esforços.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Posso ajudar?