Dois novos casos de estupro dentro da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) foram denunciados na terça-feira, 25, na segunda audiência pública sobre o tema realizada pela Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp). As vítimas, porém, não se identificaram. Os relatos anônimos foram lidos por terceiros.
Representantes do Diretório Central dos Estudantes (DCE) da USP e da Associação de Pós-graduandos do câmpus capital afirmaram na audiência que há dezenas de relatos de abuso em outras unidades da universidade, um deles praticado por um professor orientador contra uma aluna da pós-graduação. Não foram dados detalhes sobre os casos nem sobre o número de registros existentes.
Na semana retrasada, duas alunas da faculdade relataram, na primeira audiência pública da comissão, terem sofrido abuso sexual em festas da FMUSP. Inquérito aberto há pouco mais de dois meses pelo Ministério Público Estadual (MPE) investiga pelo menos oito casos de abuso cometidos na faculdade. Como os relatos desta terça foram feitos de forma anônima, não é possível saber se eles já estão na lista dos episódios apurados pela Promotoria.
Um dos novos casos teria ocorrido em 2012, dentro da faculdade, quando um aluno abusou sexualmente de uma colega. A estudante afirma que denunciou o caso à polícia e à direção da FMUSP, mas que a faculdade pouco fez para apurar o caso de forma aprofundada. A aluna acusa o diretor José Otávio Costa Auler Junior de não dar apoio a ela e de não abrir processo administrativo disciplinar específico para o caso de estupro.
A direção da FMUSP nega omissão e afirma que todos os relatos que chegaram ao seu conhecimento são objeto de sindicância. Diz ainda que a Congregação da faculdade definirá nesta quarta-feira, 26, medidas para coibir atos de violência na unidade.
O segundo caso relatado ontem aconteceu em outubro de 2011 no porão da faculdade, onde um grupo de 20 alunos havia se reunido. A estudante afirma que estava beijando um colega, que passou a insistir para que os dois fossem para um local isolado. Embriagada, a jovem conta que acordou no outro dia ao lado dele e percebeu hematomas em seu abdômen e duas marcas de mordida. Ela afirma que, “por vergonha e culpa”, nunca denunciou o caso a ninguém.
Alunos presentes na audiência também denunciaram postagens agressivas nas redes sociais. Em uma delas, um ex-aluno da FMUSP, hoje residente do Hospital das Clínicas, chama as alunas denunciantes de “prostitutas sujas”. O deputado Adriano Diogo (PT), presidente da comissão, informou já ter conseguido número suficiente de assinaturas para colocar em votação a abertura de Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) sobre violência em universidades paulistas.