Jorge Roberto Pagura, presidente da Comissão Nacional de Médicos de Futebol (CNMF) da CBF, afirmou nesta terça-feira à tarde, pouco antes de tentar embarcar rumo a Medellín, na Colômbia, que a entidade tem o objetivo de poder ajudar a agilizar de forma mais eficiente possível a remoção ao Brasil de sobreviventes da tragédia com o avião da Chapecoense, que caiu na última madrugada em Medellín no acidente trágico que deixou mais de 70 mortos.
Pagura inicialmente embarcaria para a Colômbia no mesmo voo fretado marcado para acontecer no início da noite desta terça, que também levaria Fernando Solera, presidente da Comissão de Controle de Dopagem da CBF, a pedido do presidente da entidade, Marco Polo del Nero. O voo fretado, porém, acabou sendo cancelado.
Em conversa com a reportagem do Estado no aeroporto de Cumbica, em Guarulhos (SP), o médico revelou preocupação com o zagueiro Neto, que foi resgatado mais de seis horas depois da queda do avião, com um grande corte na cabeça. Como chovia muito e fazia frio no local do acidente, ele foi encontrado com hipotermia e, segundo um socorrista, apenas mexia os olhos.
“Neto é o de estado mais grave, chegou em estado de choque, com pressão arterial baixa, o que agrava (o seu estado de saúde). Mas são situações graves, não dá para considerar nenhum fora de gravidade extrema”, afirmou o presidente da CNMF, para depois manifestar preocupação também com outros jogadores da Chapecoense que sobreviveram à tragédia: o goleiro reserva da Chapecoense, Jackson Follmann, que teve uma perna amputada, e o lateral-direito Alan Ruschel, este em melhores condições de saúde. “Para dizer que se está livre de perigo em um acidente como esse, é preciso mais tempo”, alertou.
Já ao falar sobre a importância de remover ao Brasil os sobreviventes que se recuperam em hospitais nos quais foram internados na Colômbia, Pagura frisou: “O intuito é transferir para o Brasil assim que houver condições. Mas é preciso que o paciente esteja em estágio equilibrado, mesmo com as condições atuais, de avião UTI. Precisa estar estável, não pode precisar de drogas para manter pressão, precisa estar estabilizada a parte de respiração”.
Em seguida, entretanto, admitiu que essa transferência dos sobreviventes não pode ser apressada, pois o acidente foi muito recente e eles ainda estão em estado de observação, em condições de saúde ainda imprevisíveis. “Em sã consciência, mesmo sem maiores informações, sei que não podem ser transferidos agora. Toda vez que você sobrevive a um acidente como esse, é um período de sobrevida. É necessário 72h, 96h no mínimo para estabilizar um paciente dessa gravidade. Acidente dessa magnitude não é acidente leve. Há muita coisa que pode acontecer num período posterior”, lembrou.
A magnitude do acidente aéreo também foi vista com preocupação por Pagura, que enfatizou que ainda é cedo para fazer qualquer tipo de previsão sobre quando os sobreviventes poderão vir para o Brasil. “As informações ainda são um pouco desencontradas, só com a verificação in loco para checar mesmo. Pode ter lesão pulmonar, queimadura, cortes… Mas o mais preocupante é lesão em órgãos vitais. Pode-se dizer que estes sobreviventes são sobreviventes com bastante gravidade, precisa ser otimista, mas muito parcimonioso”, ressaltou.
O presidente da CNMF da CBF ainda falou sobre as ordens que lhe foram passadas por Del Nero a serem cumpridas na Colômbia. “Logo pela manhã o doutor Marco Polo já nos ligou para tomar as providências para o amparo das famílias (das vítimas). Pediu que eu, como neurocirurgião e presidente da comissão, fosse nessa missão. No intuito, primeiro de ver a condição dos sobreviventes, a possibilidade de sobrevivência, qualquer procedimento médico. Mas também para reconhecimento de corpos, todo apoio que precisarem”, contou.