Cidades

Medo do parceiro faz denúncias de violência contra a mulher despencarem em Guarulhos

O confinamento com o agressor impede denúncias e causa discrepância nas estatísticas

Com o início da pandemia provocada pelo coronavírus, o número oficial de casos de violência contra a mulher diminuiu. Entre os crimes que mais apresentaram queda estão as ameaças, assédios e constrangimentos. A discrepância entre o que se vê no noticiário e o que mostram as estatísticas do primeiro quadrimestre (a fonte é a Secretaria Estadual de Segurança Pública) pode estar ligada ao isolamento social, que obriga a vítima a permanecer próximo ao seu agressor, não permitindo que a denúncia seja feita, muitas vezes por medo.

Para a assistente social Michele dos Santos, da Casa das Rosas, Margaridas e Beths – Centro de Referência de Atendimento às Mulheres em Situação de Violência Doméstica -, o confinamento com o agressor pode sim funcionar como impeditivo do registro da violência. “Quando a vítima sai de casa para fazer a denúncia, geralmente, ela fala para aquele homem que está indo a uma consulta médica, levar o filho para escola ou inventa outra desculpa para procurar um serviço de atendimento”, explicou. “E com a quarentena isso fica mais difícil”.

Michele alerta ainda para o perfil do agressor, que muitas vezes não deixa transparecer os crimes cometidos. “A questão da violência não é pública. Ela acontece dentro da casa e não tem testemunha. Este homem, na maioria dos casos, é simpático, não levanta suspeitas e se dá bem com os vizinhos”, esclareceu.

Em março deste ano, uma mulher de 34 anos foi morta pelo ex-companheiro, que não aceitava o fim do relacionamento. O caso aconteceu no Jardim Paraventi. Ele esfaqueou a vítima e, na sequência, atirou contra a própria cabeça. O autor do crime foi levado com vida para o hospital e contou aos policiais que fez aquilo após descobrir que a ex-mulher teria um novo relacionamento. Amigas da vítima afirmam que o homem já fazia ameaças antes de consumar o ato.

Não se cale!

Diversas campanhas auxiliam as mulheres para que denunciem a violência sofrida, antes que seja tarde demais. Uma delas é a “Sinal Vermelho”. As mulheres em situação de violência podem desenhar um ‘X’ na mão e mostrar para atendentes de farmácia. O objetivo é oferecer um canal silencioso, para que a vítima seja acolhida. O funcionário deve acionar a polícia imediatamente. A campanha do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e da Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB) foi lançada no início de junho.

Para Michele dos Santos, outros tipos de violência são sofridos pelas mulheres dentro de suas casas vão além da agressão física. A vítima precisa ficar alerta e perceber os indícios das agressões psicológicas, moral, patrimonial e sexual. “Às vezes a mulher não percebe que não permitir que ela trabalhe, dizer que ela é feia e até xingar é sim uma agressão”, explicou.

O mapa da violência contra a mulher registra os casos de homicídio, lesão corporal e maus tratos; calúnia, difamação, injúria, constrangimento ilegal; ameaça, aliciar, assediar, instigar ou constranger; violação de domicílio/dano; estupro e outros crimes contra a dignidade sexual.

Os dados foram analisados entre os meses de janeiro e abril. Ao todo, foram registrados 2.720 casos no período em 2018. Em 2019, foram 2.604. Neste ano, considerando dois meses de isolamento social, apenas 2.197 crimes foram registrados pelas delegacias de Guarulhos. Em um ano a queda foi de mais de 15%.

Apesar da queda geral, alguns crimes cresceram em 2020, como o homicídio, o estupro e o assédio. Entre os bairros com maior incidência de crimes estão: Pimentas, com 369; Bonsucesso, com 175; e Cabuçu, com 147. Fazem parte da lista: Cumbica (136); São João (125); Taboão (123); e Picanço (90).

A delegacia da Mulher de Guarulhos está localizada na rua Itaverava, 48, na Vila dos Camargos. A vítima pode ligar para a Polícia Civil (11) 2459-1019 ou para o telefone de emergência da Polícia Militar ‘190’. As denúncias também podem ser feitas por terceiros, pelo Disque Denúncia ‘181’.

Para saber mais sobre o trabalho da Casa das Rosas, Margaridas e Beths, você pode acessar https://www.guarulhos.sp.gov.br/casa-das-rosas-margaridas-e-beths.

O mapa da violência contra a mulher está disponível no site https://www.guarulhos.sp.gov.br/sites/default/files/file/arquivos/MAPA%20DA%20VIOLENCIA%202020%20DE%20JANEIRO%20A%20MAR%C3%87O.pdf.

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