A Polícia Civil realizou na manhã desta sexta-feira, 5, uma megaoperação para combater o tráfico de drogas na Cracolândia, na região central da capital. Foram cumpridos 32 mandados de prisão e 39 de busca e apreensão nessa área e no prédio do antigo Cine Marrocos, também no centro.
Lideranças do Movimento Sem-Teto de São Paulo (MSTS) foram presas por coordenarem esquema de tráfico de drogas. Um dos alvos da investigação é um candidato a vereador pelo Partido Verde (PV), que seria acusado de estar envolvido no grupo de comércio ilegal, receber dinheiro da facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC) e repassar ao movimento por moradia.
As investigações do Departamento Estadual de Prevenção e Repressão ao Narcotráfico (Denarc) apontaram a existência de um amplo esquema de fornecimento e distribuição de drogas no centro de São Paulo. Segundo a polícia, sem-teto se associaram ao PCC para comprar entorpecentes direto do fornecedor e fazer a distribuição entre os usuários. Entre os pontos de venda, estão a Cracolândia e o Cine Marrocos.
Sete lideranças do tráfico de drogas foram presas nos últimos dias. Nesta sexta-feira, dois dos maiores líderes do MSTS foram presos. Wladimir Ribeiro Brito foi detido em Maceió, onde passava férias. No Facebook, ele publicava várias fotos com carros de luxo. Já Robinson Nascimento dos Santos foi preso em São Paulo. A Polícia Civil afirmou que prendeu também a liderança do PCC na Cracolândia.
Policiais militares deram apoio à ação coordenada pelo Denarc. Os PMs e os policiais civis entraram em sete hotéis da Cracolândia e encontraram em dois deles laboratórios de refino de droga. Durante a operação, foram apreendidos um fuzil .30, uma carabina .44, duas réplicas de fuzil e uma faca no Cine Marrocos.
Surpresa
De acordo com relatos, houve confronto de usuários com os policiais civis e militares na Cracolândia. Balas de borracha, bombas de gás lacrimogêneo e jatos de água foram usados para dispersar as pessoas. A PM desmontou o cerco montado na Cracolândia por volta das 11 horas. Os guardas-civis metropolitanos (GCMs) e agentes de saúde da Prefeitura que trabalham na região ouvidos pelo Estado disseram que não sabiam da operação e que foram pegos de surpresa.
Os usuários de drogas ficaram agitados, o fluxo foi retomado após a operação, e muita sujeita se acumulou pelas ruas e calçadas. A GCM disse que não iniciaria imediatamente a limpeza para não incomodar ainda mais os dependentes químicos.
No Cine Marrocos, moradores reclamaram de violência da polícia e disseram que policiais se espalharam, desde o início da manhã, por doze andares do prédio. Ao chegar ao local, segundo testemunhas, os agentes explicaram que não se tratava de uma reintegração de posse por um bilhete. Os elevadores do prédio ficaram desligados durante a ação.
Procurada, a Secretaria da Segurança Pública (SSP) de São Paulo não comentou a operação, mas informou que uma coletiva de imprensa, às 13 horas, na sede do Denarc, no Bom Retiro, na região central, daria mais informações sobre a ação. Já a Prefeitura de São Paulo informou, em nota, que não participa da operação, mas que “está acompanhando os desdobramentos”.
A reportagem ainda não conseguiu contato com o PV. Membros do MSTS que ocupam o Cine Marrocos disseram estar surpresos com a ação da polícia. A reportagem não conseguiu contato com lideranças do movimento.