O deputado estadual gaúcho Sebastião Melo (MDB) foi eleito neste domingo, 29, prefeito de Porto Alegre com 54,63% dos votos válidos (370.550). Sua adversária na disputa, Manuela DÁvila (PCdoB), obteve 45,37% (307.745). Após a confirmação do resultado, Melo agradeceu os votos e disse que tem muitos desafios pela frente. "Mas o nosso carro-chefe será o equilíbrio econômico e fiscal, com um cuidado para o social", afirmou.
"Além disso, a questão da covid será um tema central da transição, porque tenho para nós que a economia e a saúde devem caminhar juntas. A cidade não aguenta mais este abre e fecha", afirmou.
Durante a campanha, havia assegurando que não haverá estabelecimento comercial fechado, desde que os protocolos de segurança sejam adotados. Ele também defendeu a não obrigatoriedade para aplicação da vacinas contra a covid.
Ele contou que já se encontrou com o prefeito Nelson Marchezan Jr. (PDSD) para tratar da transição. "Eu disse a ele que tudo que estiver dando certo na cidade, começando pela covid, nós vamos manter, porque um prefeito tem que olhar para frente. É isso que nós vamos fazer", afirmou. E disse que vai conversar com os vereadores para já no dia 1º de janeiro, votar uma reforma administrativa e o cancelamento do aumento do IPTU, que foi patrocinado por Marchezan e entrou em vigor em janeiro deste ano.
Em pronunciamento, Manuela, que disputou a prefeitura pela terceira vez, desejou boa sorte ao adversário. Ela também reclamou do que considerou a "eleição mais baixa" da história de Porto Alegre e disse que foi alvo de 90% das ofensas na internet. "Vamos voltar para sempre onde estivemos, nas comunidades, bairros e vilas, fazendo com que Porto Alegre possa sonhar em ser uma cidade mais justa para mulheres e homens, que moram aqui", acrescentou.
Esta foi a segunda vez que Melo disputou à Prefeitura de Porto Alegre. Na primeira vez, em 2016, teve Juliana Brizola (PDT) como vice e, na disputa do segundo turno contra o tucano Nelson Marchezan, foi apoiado por partidos de esquerda, inclusive o PCdoB.
Desta vez, se aliou ao DEM, tendo Ricardo Gomes como vice, adotou um discurso liberal defendendo privatizações e maior participação da iniciativa privada na administração municipal. Apesar da aliança, a candidatura de Melo só ganhou impulso após a saída de José Fortunai (PTB) da disputa, quando passou a liderar pesquisas e acabou sendo o mais votado no primeiro turno.
Na reta final, recebeu apoio de lideranças bolsonaristas e partiu para um ataque incisivo contra Manuela. Nos discursos, críticas a Venezuela, Cuba e ao comunismo foram repetidas sucessivamente. Além disso, o debate em torno do racismo após a morte de um cliente negro no hipermercado Carrefour elevou ainda mais a temperatura entre ambos.
"Eu não mudei de opinião. Sou um cara de equilíbrio e diálogo, o Melo continua o mesmo", garantiu ao ser questionado sobre as mudanças de rumo. Formado em Direito, Melo já foi eleito três vezes vereador.
<b>Pragmatismo</b>
O cientista político Rodrigo Stumpf Gonzalez, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), afirmou que a vitória do emedebista não representa "literalmente nada de novo". "Melo fez um discurso se aproximando da direita para ganhar, mas na eleição passada estava com a Juliana Brizola (do PDT), que hoje estava com a Manuela. Vai ser uma gestão pragmática", disse. "A esquerda também terá de repensar suas estratégias. Entrar dividida para tentar se unir no segundo turno não funciona mais", avaliou.
Colega de Gonzalez na UFRGS, o cientista político e professor Paulo Peres considerou que, apesar das derrotas de Manuela e de Guilherme Boulos (PSOL) em São Paulo, a esquerda produziu "duas lideranças nacionais jovens com grande potencial para 2022".
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>