A música de câmara tem sido uma das tônicas da carreira do violoncelista Antonio Meneses. Ao longo de mais de 40 anos de trajetória, ele não apenas integrou o Trio Beaux-Arts como desenvolveu em palcos de todo o mundo uma relação musical com parceiros como os pianistas Menahem Pressler e Maria João Pires.
O pianista Cristian Budu está com 30 anos. Mas já ocupa um espaço importante no cenário – fazendo justamente da música de câmara um dos pilares de uma carreira em franca ascensão mundo afora. No Brasil, ele criou um projeto chamado Pianosofia, com o objetivo justamente de estabelecer a prática desse repertório entre jovens músicos e uma nova forma de contato com o público (eles se apresentam na casa das pessoas).
Some o interesse pelo repertório camerístico com o fato de que estamos falando de dois dos principais artistas de suas gerações, e então faz todo sentido o encontro de Meneses e Budu hoje e amanhã, na Sala São Paulo, abrindo a temporada da Cultura Artística.
“Nós nos damos muito bem porque em geral sinto que temos ideias bastante parecidas sobre música. Temos prazer de tocar um com o outro, respeitamos o compositor e queremos que ele seja a estrela”, diz Meneses. “Ele tem um jeito caloroso e nos damos bem musicalmente”, completa Budu.
Crescimento. Os dois artistas vêm se conhecendo no palco desde 2015, quando tocaram juntos pela primeira vez em Ilhabela, no Festival Vermelhos, ao lado do violinista Claudio Cruz – Budu lembra que chovia torrencialmente no teatro, que ainda recebia os acabamentos finais. Em 2017, apresentaram-se na Sala Cecilia Meireles. E, no ano passado, em Florianópolis.
Na apresentação de Santa Catarina, tocaram a Sonata de Rachmaninov, que pretendem gravar ainda este ano, testemunho de que a parceria vem dando certo. “Eu cresci ouvindo o Meneses tocar. Lembro especialmente de uma apresentação dele no Festival de Campos do Jordão com a Maria João Pires. Então, é sempre emocionante estar com ele no palco. Tocar com o Meneses é algo que nos faz crescer”, afirma ainda Budu. Até mesmo na composição dos programas que apresentam juntos. “Foi uma das primeiras coisas que ele me disse quando nos conhecemos: precisamos ter em mente o fato de o público querer sentir que uma história está sendo contada por meio da música. E isso ele me ensinou não apenas na hora de montar um programa, mas também tocando.”
Foi o violoncelista, por sinal, que escolheu o repertório das apresentações de hoje e amanhã, com as Sonatas BWV 1027, BWV 1028 e BWV 1029, de Bach; movimentos das Bachianas brasileiras nº 2, de Villa-Lobos (a peça foi escrita tendo Bach como referência) e a Sonata nº 2 para piano e violoncelo de Bach. Villa admirava Bach, que definia como uma espécie de folclore universal, que combinou com o folclore brasileiro na série das Bachianas, fazendo do programa uma homenagem dupla – em especial pelo fato, diz Meneses, de que este ano são relembrados os 60 anos de morte do brasileiro.
Se as Bachianas gozam de certa popularidade, a Sonata nº 2 é uma peça que, para o violoncelista, merece atenção maior. Escrita entre 1915 e 1917, é símbolo da influência da música francesa na carreira de Villa-Lobos; tem cerca de meia hora de duração e foi uma das peças apresentadas pelo compositor na Semana de Arte Moderna, no Teatro Municipal de São Paulo, em 1922. “É uma obra sensacional”, diz Meneses.
ANTONIO MENESES E CRISTIAN BUDU
Sala São Paulo.
Praça Júlio Prestes, 16.
3ª (19/3) e 4ª (20/3),
21h. R$ 75 / R$ 600.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.