Estadão

Mensagem final nas redes frustra parte da militância bolsonarista

O discurso de despedida do presidente Jair Bolsonaro frustrou parte da militância em tempo real, ao longo de uma live na internet nesta sexta-feira, 30, além de causar decepção também nas redes sociais e nas ruas. Desde a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva, apoiadores do atual mandatário esperavam uma reação capaz de impedir a posse do petista, prevista para amanhã.

Internautas manifestaram nervosismo e fizeram pedidos de "socorro". "Não frustre o povo" e "não nos decepcione" foram mensagens postadas enquanto Bolsonaro falava. Apoiadores pleitearam, ainda, nos comentários, a aplicação do artigo 142 da Constituição. O dispositivo foi invocado sob a alegação de manter Bolsonaro no poder, mas a interpretação é rechaçada por juristas.

Porém, conforme o pronunciamento avançava, Bolsonaro não agia de acordo com as expectativas dos apoiadores e os comentários passaram a mostrar o sentimento de desânimo. "Se nada for feito, acabou", afirmou uma seguidora. "Nada vai fazer?", questionou outro. "Queremos ação", escreveu mais um.

Em meio aos decepcionados, houve quem agradecesse a Bolsonaro e quem visse uma suposta mensagem nas entrelinhas. O presidente disse que "o Brasil não vai se acabar no dia 1.º de janeiro". "Olha a fala subliminar, o Brasil não vai acabar em janeiro", escreveu um dos apoiadores.

Após o fim do pronunciamento, a deputada estadual eleita em Santa Catarina Ana Campagnolo (PL), aliada do presidente, deixou uma reclamação no perfil de Bolsonaro. "Faltou ser claro em um ponto. Tinha de dizer com todas as letras que o Exército está contra o povo", escreveu.

O blogueiro bolsonarista Allan dos Santos se manifestou em uma rede social: "Prisões ilegais, casas invadidas, fim da liberdade de expressão… Não se resolvem convencendo vizinhos, Bolsonaro. O mundo se acabou para alguns, sim. Talvez não para você".

Em aplicativos de troca de mensagens, o presidente foi chamado de "covarde". "Estou decepcionado, passei dois meses acreditando. Ele foi um covarde, amarelou. Estamos no fundo do poço sem corda para subir", afirmou um usuário.

<b>No quartel</b>

No Comando Militar do Sudeste, em São Paulo, as declarações provocaram reações negativas dos apoiadores. Como Bolsonaro não convocou uma intervenção militar esperada pelos manifestantes, o grupo que acampa no local voltou a cobrar ação das Forças Armadas.

Com o aumento do fluxo de pessoas que chegaram ao longo do dia, um grupo se reuniu e organizou uma música a ser cantada no acampamento. No texto, os apoiadores seguiram questionando o resultado das urnas e reforçaram o pedido de intervenção: "Só saio daqui quando resolver", diz a letra.

<b>Monitoramento</b>

Levantamento feito pela Torabit a pedido do <b>Estadão</b> mostrou que as falas do presidente receberam mais menções negativas (42,4%) do que positivas (30,1%) nas redes sociais. As neutras atingiram 27,5% do total. Os dados foram coletados pela plataforma de monitoramento digital das 10h às 15h de ontem e alcançaram mais de 185 mil menções.

Em relação às menções negativas, os principais termos usados foram "acabou", "fim", "golpe" e "EUA". O presidente deixou o País ontem rumo a Orlando. "Acompanhando as pesquisas de reprovação do governo, no penúltimo dia de Bolsonaro como presidente, o monitoramento das redes sociais mostra que a maioria dos brasileiros expressa sentimento negativo sobre sua figura, seja na última live, seja sobre seu destino de viagem", disse Stephanie Jorge, cofundadora da Torabit.
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>

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