Após derrota nas urnas em outubro do ano passado, o então presidente Jair Bolsonaro (PL) teria arquitetado, com o deputado Daniel Silveira (PTB-RJ) e com convite feito ao senador Marcos do Val (Podemos-ES), um plano para tentar anular a eleição e impedir a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), numa tentativa de golpe. Em mensagens obtidas pela revista <i>Veja</i>, Marcos do Val teria dito ao ministro Alexandre de Moraes, no dia 12 de dezembro, que Silveira e Bolsonaro o teriam convidado para, segundo ele, participar uma ação "esdrúxula, imoral e até criminal".
Na madrugada desta quinta-feira, 2, Do Val anunciou que vai renunciar ao mandato por causa do suposto episódio, citando a entrevista concedeu à <i>Veja</i>. Em ação da Polícia Federal (PF) que não tem relação com o episódio narrado por Do Val, Daniel Silveira foi preso nesta manhã. Após a revelação, a PF pediu autorização ao STF para ouvir Do Val em depoimento.
De acordo com as declarações do senador à revista, foi Daniel Silveira quem o chamou para conversar sobre "um assunto importante" com Jair Bolsonaro. A reunião, por sua vez, teria sido "incomum", e o então deputado supostamente combinou com o senador de tratar o encontro apenas por códigos.
Daniel Silveira teria orientado o parlamentar sobre como chegar ao destino sem ser visto. "Vou te mandar a minha localização, mas tu não entra não, no Alvorada. E nem chega perto da entrada. Tu não vai aparecer. Tu vai parar o carro no estacionamento que eu vou te mandar a localização. Eu vou estar ali. O carro vai vir buscar a gente". O embarque teria sido feito por um carro de segurança do presidente da República até o Alvorada, com entrada não registrada na portaria.
Durante 40 minutos, Do Val disse ter ouvido uma ideia que "salvaria o Brasil". Ainda segundo ele afirmou à <i>Veja</i>, o plano era gravar o ministro do STF e presidente do Tribunal Superior Eleitoral e captar um diálogo que sugerisse uma suposta intervenção de Moraes durante a campanha eleitoral.
Bolsonaro teria afirmado que o plano já estava acertado com o Gabinete de Segurança Institucional (GSI), órgão responsável pela segurança do presidente e que tem a Agência Brasileira de Inteligência (Abin). Do Val teria os equipamentos necessários para espionar o ministro.
Sem dar uma resposta, Do Val teria pedido para pensar e, na manhã seguinte, teria recebido uma ligação de Silveira cobrando uma posição. Segundo ele, Do Val poderia ficar tranquilo, que a "missão" era segura e que "nem o Flávio saberá", referindo-se ao filho do presidente, senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ).
O senador disse à revista não ter respondido. "Não sei se você compreendeu a magnitude desta ação. Ela define, literalmente, o futuro de toda a nação", teria dito o deputado, que reforçou para que o parlamentar não comentasse com ninguém sobre a ação: "se aceitar a missão, parafraseando o 01, salvamos o Brasil".
No encontro com Alexandre de Moraes, Do Val supostamente contou os detalhes do encontro com o presidente e sobre proposta recebida. Em resposta, o ministro teria dito "não acredito". No mesmo dia, o senador teria declinado a participação com Daniel Silveira.
Os citados foram procurados pela revista. Em resposta, o agora ex-deputado Daniel Silveira informou, por intermédio de seus advogados, que está impedido pela Justiça de falar com jornalistas. Alexandre de Moraes, também por meio de sua assessoria, disse que não iria comentar o caso. O senador Marcos do Val confirmou ter participado da reunião com o então presidente e admitiu ter ouvido os detalhes do plano – e decidiu relatar a Moraes.