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Mercado espera que CMN adiante decisão sobre inflação

Em meio à cruzada do governo de Luiz Inácio Lula da Silva contra a gestão de juros conduzida pelo Banco Central (BC), as atenções se voltam para a reunião do Conselho Monetário Nacional (CMN), marcada para a próxima quinta-feira, 16. O encontro é o primeiro sob o novo governo. A expectativa do mercado é de que seja inserida na pauta a possibilidade de antecipar a definição das metas de inflação – outro alvo de Lula -, esperada para junho. Economistas ouvidos pelo <i>Estadão/Broadcast</i>, sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado, dizem que a incerteza tem causado prejuízos às expectativas do mercado e aos ativos do País.

Na quinta-feira, 9, o tema dominou o mercado doméstico e levou a uma alta do dólar a R$ 5,2788 – maior nível em um mês – e a uma queda de 1,77% do Ibovespa, o principal indicador da Bolsa brasileira. O movimento dos ativos seguiu a informação de que o próprio presidente do BC, Roberto Campos Neto, sinalizara à equipe econômica a possibilidade de aumentar o alvo de 2024 de 3% para 3,5%.

A leitura dos analistas é de que adiar a definição das metas até junho, quando o colegiado tradicionalmente delibera sobre o tema, pode amplificar o desalinhamento das expectativas de inflação vistas no Boletim Focus (que retrata a percepção do mercado) e dificultar ainda mais a queda do juro.

Ao <i>Estadão/Broadcast</i> na segunda-feira, 6, o economista-chefe do Bradesco, Fernando Honorato Barbosa, defendeu que uma solução rápida para o tema pode ajudar no "processo de ancoragem das expectativas" e diminuir o ruído na condução da política monetária. "Qualquer que seja a decisão, que venha a ser tomada", disse.

<b>Necessidade de âncora</b>

Embora uma decisão antecipada possa reduzir as incertezas, alguns agentes do mercado ponderam que alterar as metas antes de o governo apresentar a sua proposta de nova âncora fiscal – prometida pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, para abril – poderia levar a uma nova rodada de descompasso das expectativas de inflação. Sem uma regra fiscal crível para substituir o teto de gastos do governo, a confiança do mercado no alvo seria baixa, diz o economista do Barclays para o Brasil, Roberto Secemski: "Uma meta de inflação mais alta poderia ser interpretada pelo mercado, na falta de uma regra fiscal conhecida e crível, como representando o piso, e não o verdadeiro centro da nova banda de metas, o que poderia ser contraproducente".

O economista-chefe da XP Investimentos, Caio Megale, espera uma elevação das metas dos próximos anos a um nível entre 4% e 4,5%, em linha com a sua projeção para o IPCA de 2024 (4,5%). Para o analista, a proposta de nova âncora fiscal deverá determinar se o governo e o BC conseguirão aproximar as expectativas em torno do centro do alvo.

O economista-chefe do Banco BV, Roberto Padovani, ressalta que um cenário de expansão fiscal com maior tolerância da política econômica à inflação alta traz risco de aumento da taxa real de juros da economia.
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>

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