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Mercedes busca sequência inédita de dobradinhas no início de um Mundial de F-1

Dominante, a Mercedes terá a chance de conquistar neste domingo um feito inédito na Fórmula 1. Se o inglês Lewis Hamilton e o finlandês Valtteri Bottas terminarem o GP do Azerbaijão nas duas primeiras posições, a equipe emplacará uma sequência de quatro dobradinhas nas quatro corridas iniciais de uma temporada, o que nenhuma outra conseguiu na história da categoria, iniciada em 1950.

Na prova passada deste Mundial, realizada na China há duas semanas, a escuderia das “Flechas Prateadas” já protagonizou uma grande façanha ao repetir o que não ocorria na F-1 desde 1992, quando a Williams, com Nigel Mansell e Riccardo Patrese, teve os seus dois pilotos nos dois principais postos do pódio nos três primeiros GPs daquele campeonato.

Porém, mesmo com a “Williams de outro planeta”, como era chamada na época devido à grande superioridade técnica do seu carro em relação aos rivais do grid, a dupla formada pelo inglês e o italiano não conseguiu repetir a dobradinha na quarta corrida daquele ano, na Espanha, quando Mansell venceu, mas o então jovem Michael Schumacher foi o segundo colocado pela Benetton.

Embora a Ferrari tenha sido a melhor equipe dos testes coletivos da pré-temporada de 2019, a Mercedes começou o campeonato deste ano com Bottas triunfando e Hamilton ficando em segundo lugar no GP da Austrália. Depois, essa ordem se inverteu no pódio nas duas provas seguintes, no Bahrein e na China. E esta sequência de resultados serviu para evidenciar que o time baseado em Brackley, na Inglaterra, possui também um carro que pode ser considerado mais confiável ou competitivo do que os monopostos dos seus principais rivais no grid.

Isso ficou claro no Bahrein, no circuito de Sahkir, onde o monegasco Charles Leclerc disparou na ponta e parecia trilhar um caminho inevitável até a vitória. Porém, o motor de sua Ferrari começou a apresentar problemas e ele acabou sendo ultrapassado pela dupla da Mercedes, assim como sofreu para assegurar uma amarga terceira colocação.

Antes disso, na Austrália, Vettel e Leclerc sequer ficaram entre os três primeiros e terminaram a prova em Melbourne mais de 57 segundos depois do vencedor Bottas. Na China, por sua vez, Hamilton e seu companheiro foram dominantes o tempo todo na pista de Xangai, sendo que o finlandês partiu da pole, mas viu o pentacampeão mundial assumir a ponta na largada antes de os dois dispararem na frente rumo a mais uma dobradinha.

Ao analisar o domínio da Mercedes, Luciano Burti, comentarista de automobilismo da TV Globo e ex-piloto de F-1, explicou à reportagem do Estado os motivos que vê como principais para o sucesso da equipe, que ganhou os últimos cinco Mundiais de Pilotos e de Construtores da categoria.

“A Mercedes, quando voltou para a Fórmula 1, no início ficou atrás de grandes equipes como a Ferrari e a McLaren, mas este seu domínio começou quando contratou Hamilton e fez uma reestruturação geral, contratando uma equipe de profissionais e projetistas muito boa. E quando veio esse motor híbrido, a Mercedes teve uma vantagem grande por muito tempo, pois foi quem entendeu melhor como usá-lo”, disse Burti, que defendeu a Jaguar e a Prost na F-1 e foi piloto de testes da Ferrari.

“A principal diferença para a Mercedes dominar foi o seu motor. Foi o grande mérito desta história, não só por ser muito forte, mas por sua durabilidade. A última vez que eu lembro de ver dois pilotos da Mercedes abandonarem uma corrida foi no GP da Áustria do ano passado. E com isso tudo somado a uma dupla de pilotos muito forte, formada por Hamilton e (Nico) Rosberg (no início desta era vitoriosa), a equipe passou a ter o melhor pacote do grid”, reforçou.

O crescimento financeiro do time chefiado por Toto Wolff também foi apontado por Burti como outro fator importante neste processo. “Como a geste costuma dizer, dinheiro chama dinheiro. E ao ir conquistando títulos, a Mercedes ficou cada vez mais rica e essa questão faz muita diferença na F-1, pois isso ajuda a equipe a continuar com os melhores pilotos e os melhores profissionais”, disse.

O MELHOR PILOTO – É inegável que o sucesso da Mercedes está ligado ao talento de Hamilton, que ganhou quatro dos último cinco Mundiais, depois de ter conquistado o primeiro título de sua carreira na F-1 em 2008, pela McLaren. Apesar disso, Burti acredita que, até mesmo sem o inglês, a equipe faturaria todos estes títulos.

“Atualmente, sim, Hamilton é o melhor piloto do grid. Tem dois caras que poderiam se igualar a ele, que são o Leclerc e o (Max) Verstappen (da Red Bull), mas isso depende de uma série de fatores para poder acontecer. E mesmo com outro piloto, com um nível muito bom, eu acho que a Mercedes teria vencido todos estes campeonatos. Não teria tantas vitórias e tantas poles, talvez, mas eu aponto que a Mercedes teria vencido”, disse Burti.

E ao ser questionado pelo Estado se o domínio imposto pela Mercedes nos últimos anos pode ser comparado, por exemplo, ao visto no passado com Schumacher na Ferrari, com a dupla de Ayrton Senna e Alain Prost na McLaren ou quando a Williams teve o chamado “carro de outro planeta” na década de 1990, o ex-piloto respondeu: “Esse início de campeonato se comparar a qualquer um destes cenários que você falou. Três dobradinhas seguidas mostram exatamente isso”.

RECORDES NA MIRA – Caso conquiste o Mundial de Construtores deste ano, a Mercedes também vai igualar um feito expressivo da Ferrari, que é o de ganhar por seis anos consecutivos essa disputa por equipes da F-1. No auge da era vitoriosa de Schumacher, a escuderia italiana triunfou nesta batalha paralela entre os times entre os anos de 1999 e 2004.

E os recordes mais expressivos do alemão estão na mira de Hamilton. Heptacampeão, o ex-piloto é quem mais ganhou títulos na história da F-1, mas o inglês já está com cinco campeonatos conquistados e vem mostrando que pode alcançar ou até quebrar esta marca. Schumacher também é o detentor do maior número de vitórias, com 91, mas o britânico completou a sua 75ª no último GP da China e parece capaz de ganhar outras 16 ou mais até o fim de sua carreira.

“Há dois ou três anos, eu diria que quebrar essas marcas seria impossível, mas agora eu acho que é muito possível sim”, acredita Burti, antes de em seguida pontuar: “Mas, se a Ferrari entrar forte na briga (pelas vitórias e campeonatos), vai ser difícil para o Hamilton alcançar estes números do Schumacher”. E é melhor não duvidar mesmo do inglês, que lidera o atual campeonato da F-1 e vai em busca de sua 76ª vitória neste domingo, na prova que começa às 9h10 (de Brasília), no circuito de Baku.

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