Economia

Mesmo com alta da Selic, BC não previu fuga da poupança em relatório

A debandada de recursos da poupança no início deste ano, que gerou escassez de funding para o setor imobiliário e fez com que o governo tomasse medidas voltadas para o setor na quinta-feira, 28, à noite, foi uma surpresa para o Banco Central. A conclusão pode ser tomada a partir do último Relatório de Estabilidade Financeira (REF) de março, referente ao segundo semestre do ano passado.

Naquele período, o BC já havia promovido um aumento de 0,75 ponto porcentual da taxa básica Selic, um dos componentes que, aliado à diminuição do poder de compra da população, podem ser apontados como responsáveis pela saída da caderneta este ano. Em outubro, aumentou a Selic de 11% para 11,25% ao ano e, em dezembro, aumentou para 11,75% ao ano.

No documento, o BC ressaltava que o crescimento do funding estável permaneceu compatível com o aumento de prazo médio e do volume da carteira de crédito, mantendo o risco de liquidez estrutural baixo. A instituição chegou a citar que, entre os instrumentos de captação de maior estabilidade, destacavam-se a poupança, a letra financeira (LF) e a Letra de Crédito Imobiliário (LCI), que ontem também sofreu ajustes para estimular projetos estritamente habitacionais. Até então, esse produto beneficiava todos os segmentos imobiliários e, a partir de 1º de junho, será restrito à moradia.

No REF de março, o BC destacou também que o crédito imobiliário prosseguia em desaceleração, mas que ainda mantinha taxa de crescimento elevada. Isso seria consequência da escolha das instituições financeiras de dar maior ênfase às modalidades de menor risco em suas políticas de crédito. Ainda assim, ao longo do segundo semestre do ano passado, a autarquia identificou que a carteira de financiamento imobiliário vinha apresentando tendência de aumento da inadimplência, movimento que só foi revertido em dezembro.

“No entanto, parte significativa dessa redução de inadimplência está associada à renegociação das operações, incluindo a repactuação de prazos e de outras condições contratuais dos financiamentos que se encontravam em atraso”, escreveu o BC na ocasião. Não fosse essa renegociação de contratos em atraso, que se concentrou especialmente nos bancos públicos, haveria um “pequeno incremento” da inadimplência do crédito imobiliário nesse segmento, conforme o documento. De qualquer forma, o REF ressaltou que a modalidade apresenta historicamente baixo nível de perdas, por conta de suas garantias.

No documento, o BC apresentou ainda uma simulação de reduções sequenciais nos preços de imóveis e detectou que, somente após 30% de queda – variação semelhante à depreciação acumulada em três anos ocorrida na última crise imobiliária norte-americana – uma instituição ficaria desenquadrada aos parâmetros exigidos pelo fiscalizador. “Em relação à insolvência, seria necessária uma queda de mais de 50% para que uma instituição ficasse com seu capital principal negativo.”

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