Apesar de sinais variados dos mercados internacionais e do Produto Interno Bruto (PIB) fraco do Brasil, a expectativa de aprovação da PEC dos Precatórios permite alta do Ibovespa, após o indicador ter sucumbido ontem para a faixa dos 100 mil pontos no fechamento (100.7745,57 pontos, queda de 1,12%). Enquanto as bolsas europeias caem, os índices futuros de Nova York, em sua maioria, indicam abertura em alta do mercado de ações americano, porém de forma moderada. Além disso, a valorização do petróleo pode reforçar a estimativa de elevação do Ibovespa. Do lado oposto, deve pesar a queda do minério de ferro.
"O mercado está de olho no exterior e em Brasília. Está na expectativa de aprovação da PEC dos Precatórios", diz o estrategista-chefe do Grupo Laatus, Jefferson Laatus. A sessão para a votação da PEC teve início às 9 horas. Agora, inicia a discussão da PEC no plenário.
Além dessa expectativa, Julio Pinelli, especialista em renda variável da Delta Flow Investimentos, acrescenta que a alta de hoje também deve-se a um ajuste, após a perda da véspera. "Corrige a queda de ontem. Porém, continua o foco na nova cepa, que traz preocupações, incertezas e o que ela pode trazer de consequências para a economia. No Brasil, o avanço da PEC é fundamental para que se tire o risco fiscal do mercado", diz. Às 11h02, o Ibovespa subia 2,06%, aos 102.851,27 pontos, ante máxima diária aos 102.872,04 pontos.
Apesar disso, uma tendência firme de alta à frente para o Ibovespa não está garantida, em meio à cautela com questões sanitárias mundiais e fiscais no Brasil, após um PIB fraco no terceiro trimestre. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) solicitou ao governo adoção de medidas restritivas contra mais quatro países africanos diante da nova variante da covid-19 Ômicron: República de Angola, República do Malawi, República de Moçambique e República da Zâmbia. Para completar, há alguns sinais de cautela do exterior, como a queda do índice DXY, que mede a variação do dólar ante uma cesta de seis rivais fortes, que acentua a queda.
"O quadro segue volátil nos mercados internacionais, ainda que a abertura aponte uma tentativa de recuperação após a piora observada na tarde de ontem. Diante das incertezas trazidas pela nova variante do coronavírus, a tendência é que esta alternância de humor persista no curto prazo", estima o economista Silvio Campos Neto, sócio da Tendências Consultoria, em nota.
Investidores mundo afora continuam reavaliando os efeitos da variante Ômicron do coronavírus, que segue se espalhando pelo globo. Com a chegada da nova cepa do vírus no Brasil, Estados Unidos e a quarta onda da pandemia na Europa, ao menos 14 capitais brasileiras já desistiram de eventos públicos no fim do ano.
Neste sentido, o PIB do terceiro trimestre pode ser visto como dado retrovisor, diante das incertezas quanto a novas medidas restritivas para conter o avanço da variante no Brasil. De todo modo, com mais um resultado fraco e essas dúvidas, ações ligadas à retomada econômica devem ficar no radar hoje, assim como a PEC dos Precatórios.
Segundo Laatus, está claro que a possibilidade de ações de restrição social fica no radar. Contudo, ele pondera que os efeitos tendem a ser sentidos mais a partir de 2022. "Já temos previsão de recessão e teremos eleição. O mercado está olhando mais para o próximo ano", diz.
O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), disse estar trabalhando para aprovar a PEC e para votar a proposta e a medida provisória que cria o Auxílio Brasil.
Em tese, uma aprovação já estaria "precificada" por agentes e especialistas, como muito tem se falado. Porém, uma possível desaprovação agregaria novas incertezas ao mercado, que começou a quinta-feira com o resultado fraco do PIB.
"A perspectiva de votação da PEC dos Precatórios, ainda que o tema siga cercado de controvérsia, também favorece os ajustes, após uma quarta-feira bastante adversa para bolsa e câmbio", diz Campos Neto.
O Itaú Unibanco espera que o plenário do Senado conclua a votação em breve. Ainda, acrescenta em nota, o recesso no Congresso deve começar no dia 23 de dezembro, marcando o fim das atividades legislativas de 2021. "Espera-se que o tema do Orçamento da União para 2022 seja discutido e concluído antes do início do recesso."
Enquanto os índices futuros de ações americanos sobem, ao passo que o DXY cai, assim como as bolsas europeias diante da cautela com a Ômicron. Investidores esperam novas informações sobre a variante e sinais do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) sobre o programa de retirada dos estímulos monetários. Além disso, a Organização dos Países Exportadores de Petróleo e aliados (Opep+) pode manter o atual nível de produção da commodity em ambiente de incertezas sobre oferta e demanda.