A Pixar já teve de fazer um personagem todo peludo (Sully, de Monstros S.A.), domar os cachos de Merida (em Valente) e reproduzir as emoções de uma menina (em Divertidamente). Mas poucas vezes enfrentou um desafio como o polvo Hank. “Ele é o companheiro perfeito para Dory, um peixe, porque pode rastejar, entrar em lugares pequenos, mudar de cor”, disse o diretor Andrew Stanton. Pois foram justamente essas facetas que quase enlouqueceram a equipe responsável.
Primeiro, era preciso criar seu visual. Jason Deamer, diretor de arte de personagens, tentou aprender o que podia sobre os polvos. Ele observou como esses animais são capazes de não apenas mimetizar a cor, mas também a textura da pele, a forma de outros bichos e o jeito como se movem. “Hank poderia ser um super-herói relutante, com superpoderes, como se disfarçar de mochila. Um polvo consegue escapar das maneiras mais incríveis. Então, seu superpoder é ser um mestre da fuga, uma espécie de Houdini.” Ao mesmo tempo, ele teria uma face humana, inspirada no animador Bud Luckey, que trabalhou na Pixar entre Toy Story e Carros. Apareceu mais um problema: onde colocar a boca do personagem. No polvo, ela seria embaixo da cabeça, mas isso não funciona numa face humana nem numa animação. Escolheu-se algo intermediário, focando a expressividade nos olhos.
Em seguida, a equipe de Jeremie Talbot, supervisor de personagens, precisou ver se dava para construir Hank no computador para depois ser animado. O principal problema era como fazer os tentáculos se mexerem. Superado esse obstáculo, entraram os animadores, responsáveis pela atuação dos personagens. “Com Hank, estávamos demorando de três a quatro semanas para definir uma cena”, disse o supervisor da área, Mike Stocker. Era tempo demais. Eles pediram ajuda ao pessoal da animação tradicional, em 2D, para chegar a seus movimentos e expressões. Terminaram obrigados a tirar alguns tentáculos. Perderam no realismo, mas ganharam na clareza. Por fim, as cenas passaram para o pessoal dos efeitos, responsáveis, por exemplo, por fazer as ventosas dos tentáculos funcionarem. “Para mim, foi o personagem mais difícil de todos da Pixar”, disse John Halstead, diretor técnico.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.