O presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA), Jerome Powell, ressaltou a importância da autoridade monetária avaliar se deve permitir que a inflação suba acima da meta de 2% com mais frequência, mas sugeriu que não deve haver mudanças tão cedo.
Em discurso feito na Universidade de Stanford na noite de sexta-feira (8), Powell disse que quaisquer mudanças sobre metas de inflação devem ser estudadas com cautela, dada a perspectiva desconfortável de que os dirigentes do banco central terão menos espaço para cortar os juros e estimular a economia em futuras desacelerações. Powell acrescentou que “há um limite alto para adotar mudanças nos fundamentos”.
Os juros de referência de curto prazo do Fed estão, atualmente, na faixa entre 2,25% e 2,50%, e o Fed, em recessões recentes, cortou as taxas em quase o dobro disso. Juros mais baixos elevam o risco do Fed ter menos espaço para cortá-los.
O Fed vinha batalhando para manter a inflação na meta de 2% até pouco tempo atrás, e outras economias desenvolvidas estão empacadas numa rota de lento crescimento e inflação muito abaixo das metas dos bancos centrais.
Powell alertou ontem que a inflação persistentemente baixa arrisca pressionar as expectativas das famílias e das empresas, o que implica na necessidade de juros ainda mais baixos para impedir que a inflação caia – um ciclo difícil dos bancos centrais quebrarem.
“É, portanto, muito importante que os bancos centrais encontrem maneiras mais efetivas para combater a síndrome da baixa inflação que parece acompanhar os juros perto de zero”, disse Powell. “Temos uma responsabilidade com a população americana de considerar políticas que possam promover resultados significativamente melhores”.
Powell ressaltou que o Fed não está cogitando mudar a meta de inflação de 2%. Em vez disso, uma estrutura de políticas que é mais relaxada quanto à inflação mais alta seria uma maneira de sinalizar o compromisso do Fed em tomar ações mais ousadas para impulsionar o crescimento após uma recessão. O presidente do Fed de Nova York, John Williams, grande aliado de Powell, é defensor dessas abordagens.
Atualmente, o Fed visa a uma meta de inflação de 2% todos os anos, não importa o que tenha acontecido no ano anterior – uma postura “o que passou, passou”. Numa revisão do pacote de política monetária, Powell disse que o Fed deveria considerar estratégias que almeje reverter perdas passadas. Tais estratégias “merecem séria atenção”, disse.
Uma das técnicas seria colocar meta de 2% “na média” do ciclo de negócios, o que significa que a inflação seria um pouco mais alta que 2% durante tempos prósperos para compensar um déficit esperado durante desacelerações.
Ainda assim, Powell sinalizou que pode ser difícil para o Fed mudar a condução de sua política monetária tão cedo, pois essas políticas só funcionariam se estivessem bem entendidas pela população. O Fed debateu a atual meta de inflação de 2% por muitos anos antes de adotá-la formalmente.
Estratégias de compensação de inflação continuam “amplamente não testadas”, e os dirigentes do Fed “têm motivo para questionar como elas funcionariam na prática”, afirmou Powell. Antes do Fed implementá-las, “teria de haver compreensão generalizada da sociedade e aceitação”, conclui. Fonte: Dow Jones Newswires.