A vista do topo da Torre Alta da Amazônia é incrivelmente monotemática: floresta verde a perder de vista, em todas as direções. Construída numa região de mata preservada, dentro da Reserva de Desenvolvimento Sustentável do Uatumã, ela é o local ideal para discutir a relação entre biosfera e atmosfera.
Aparelhos conectados à torre monitoram continuamente uma série de parâmetros relacionados à formação de nuvens, fluxo de gases, radiação solar, cobertura foliar, dispersão de partículas e vários outros fatores que influenciam a interação entre o clima e a floresta.
O tamanho da torre é crucial neste momento: quanto mais alto é feita a medição, maior é a área representada por ela. O ar coletado a 325 metros de altitude carrega informações de centenas de quilômetros quadrados de floresta ao redor.
O monitoramento a longo prazo também é essencial, por causa das variações naturais que ocorrem ano a ano.
“O Atto foi construído para ser um projeto de décadas”, diz o pesquisador Antonio Manzi, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), que coordenou a criação e implementação do observatório pelo lado brasileiro, atuando pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) até 2015. “São dados que vão nos permitir representar a Amazônia de forma muito mais realista nos modelos meteorológicos e climáticos.”
Uma das perguntas fundamentais que os cientistas esperam responder é se a Amazônia é uma fonte ou um “sumidouro” de gás carbônico. Ou seja: ela mais emite ou mais absorve carbono da atmosfera?
Não é uma conta fácil. Estudos recentes indicam que as florestas tropicais do mundo, fragilizadas pelo desmatamento e degradação ambiental, estão emitindo mais carbono do que conseguem absorver. Mas numa floresta do tamanho da Amazônia é difícil extrapolar qualquer coisa. O Atto permitirá ver como esse fluxo funciona numa floresta intacta. “Para todos os cientistas que estudam mudanças climáticas, a Amazônia é uma peça-chave”, diz a pesquisadora Susan Trumbore, do Instituto Max Planck. A subutilização da torre, segundo ela, seria um prejuízo para a ciência mundial.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.