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Meta era que psicologia dos personagens fosse real

Por trás da maquiagem extravagante, com direito a cabelo verde, dentes metálicos e batom vermelho, o Coringa de Jared Leto traz um quê do Pablo Escobar vivido por Wagner Moura em Narcos. Para se distanciar das interpretações de Jack Nicholson e de Heath Ledger, que retrataram o Palhaço Príncipe do Crime mais no espírito dos quadrinhos, o ator assistiu a vários episódios da série protagonizada pelo brasileiro durante sua preparação para Esquadrão Suicida.

“Busquei inspiração na abordagem realista de um criminoso como Escobar, que espalhava o terror pelas ruas”, conta Leto, surpreendente na releitura que fez do personagem da DC Comics para o cinema. O seu Coringa tem estilo próprio, sem precisar emprestar nada das premiadas atuações anteriores. Nicholson foi indicado para o Globo de Ouro de ator em comédia por Batman, em 1990, e Ledger levou o Oscar póstumo de coadjuvante por Batman – O Cavaleiro das Trevas, em 2009. “Sabia que eu teria de me reinventar, assim como fazem os atores que encarnam criações de Shakespeare nas telas ou nos palcos.”

Quem recomendou o seriado Narcos ao ator foi David Ayer, o diretor de Esquadrão Suicida. “Como Coringa é um gângster, fazia sentido usarmos as referências dos criminosos modernos”, afirma o cineasta, interessado em recriar um submundo real ao reunir os vilões da DC Comics nessa superprodução de US$ 150 milhões. “Queria ter a sensação de que a história acontece na nossa realidade e não necessariamente no universo paralelo e estilizado dos quadrinhos”, completa.

A linguagem visual dos comic books está presente nos figurinos e nos acessórios dos anti-heróis, mas com os personagens inseridos em bairro perigoso de qualquer cidade grande. “Podíamos estar na zona leste de Los Angeles, por exemplo”, diz o diretor, referindo-se à região onde predominam as comunidades hispânicas.

“É como se os vilões dos quadrinhos desembarcassem no nosso mundo. Gotham City nunca teve aura tão contemporânea”, afirma Will Smith, escalado para interpretar Pistoleiro, o assassino de aluguel. “Outro aspecto realista do filme é refletir a cultura das armas, o que é muito forte nos EUA. Provavelmente, um culto que teve origem na época dos caubóis”, completa o ator.
Pistoleiro é um dos anti-heróis recrutados pelo governo americano para uma força-tarefa criada para combater uma entidade sobrenatural, Magia (Cara Delevingne). Para os criminosos, é uma chance não só de redenção (diante do mal que já fizeram, inclusive a membros da família), mas de redução da pena.

“Exceto por algumas habilidades excepcionais, nossos vilões são humanos que lutam com os seus demônios internos. São lobos solitários que, mesmo rejeitados pela sociedade, descobrem que ainda servem para alguma coisa, surpreendendo a si mesmos”, conta Margot Robbie, escolhida para encarnar Arlequina, a ex-psiquiatra que perdeu o juízo ao se apaixonar por Coringa.

Ainda que os efeitos especiais, sobretudo nas cenas de lutas, acentuem os aspectos fantasiosos dos comics nas telas, o diretor insistiu que a psicologia dos personagens fosse real. “Os filmes de super-heróis costumam trazer protagonistas pouco convincentes, parecendo caricaturas. Por mais perturbados que os vilões sejam aqui, eles são pessoas de verdade. Entendemos de onde eles vêm”, afirma Ayer.

O diretor sabia que o filme dependeria também de uma conexão palpável entre os personagens. Além de Pistoleiro e de Arlequina, o grupo é formado por Capitão Bumerangue (Jai Courtney), Crocodilo (Adewale Akinnuoye-Agbaje), Amarra (Adam Beach), Katana (Karen Fukuhara), Diablo (Jay Hernandez) e o soldado Rick Flagg (Joel Kinnaman) – Coringa não faz parte, tendo em Arlequina seu elo com o time.
“Para criar laços, fiz os atores ensaiarem e coreografarem as lutas à exaustão. Ainda fazia cada um contar coisas pessoais ao grupo, obrigando-os a confiar uns nos outros. Não havia diferença entre os membros do esquadrão no set, não importando o status do ator da indústria”, diz Ayer, lembrando que o astro Will Smith teve o mesmo tratamento que a estreante Karen Fukuhara. “Sou contra privilégios, independentemente do cachê de cada um.”
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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