Mundo das Palavras

“MÉTODO LADAINHA”NO ENSINO

Confira a coluna semanal Mundo das Palavras, assinada pelo jornalista e professor doutro Oswaldo Coimbra

Uma alta autoridade da Igreja Católica, afetada por um problema de saúde, foi internada por seu médico num moderno hospital de São Paulo. Quando teve alta, o religioso se divertia contando para seus amigos a surpresa que tivera no hospital. Entre os recursos avançados utilizados na busca de sua cura, ele foi também submetido a uma velha e um tanto constrangedora técnica de lavagem estomacal. A mesma que a mãe dele lhe aplicava quando ele era criança.


Quem se matricular hoje num avançado curso de Inglês, no Brasil, deve estar preparado para surpresa semelhante. Felizmente, não mais com a antiga lavagem do estômago. Porém,  com o uso de uma técnica igualmente velha, no meio de recursos didáticos aperfeiçoados pela tecnologia atual.  A do ensino de língua estrangeira através da repetição exaustiva de frases sem sentido porque deslocadas do convívio social onde são úteis – exatamente como ocorria, há meio século. O “método ladainha”.


“Eu bebo café”, “eu bebo leite”, “eu bebo chá”. “Você come carne”, “você come pão”, “você come queijo”.  Isto repetido dezenas de vezes em Inglês. Inicialmente pelo professor, depois pelos alunos, como num jogral absurdo.


O que justificaria a permanência do emprego deste método de ensino quando os alunos dispõem também de algo tão e encantador e estimulante como a maravilhosa caneta que fala? Aquela capaz de ler num volume de voz graduado pelo aluno as palavras do livro de exercícios a serem feitos em casa. Assim como de outros recursos, banalizados, porém muito mais estimulantes que as cansativas ladainhas de sala de aula. Como CDs e DVDs.


Como as lavagens de estômagos, as ladainhas incomodam. Não requerem inteligência, apenas memória. Mas, também como as lavagens, certamente tem lá os seus méritos. Como o de desenvolver a memória auditiva na língua estrangeira. Permitem observar, através das habilidades fonéticas do professor, as complicações de pronúncias em palavras – simples quando traduzidas para o Português – como “water”, “juice” e “daughter”. Respectivamente, “água”, “suco” e “filha”. Será por isto que as ladainhas se mantém em cursos ministrados por professores inegavelmente capacitados e atualizados?


O certo é que nem o aparato tecnológico colocado, hoje, à disposição do Ensino anulou completamente os momentos de desconforto no aprendizado de língua estrangeiro.


Anulará um dia?

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