O estudante Guilherme Alves, de 21 anos, estava saindo da Estação Liberdade da Linha 1-Azul do Metrô de São Paulo, quando foi surpreendido ao chegar ao topo da escada rolante. Um homem anunciou um assalto e, dizendo portar uma arma, falou para ele passar o celular. Encurralado, Guilherme entregou o aparelho e o homem fugiu correndo com um comparsa. O caso, que aconteceu em uma noite no fim do último mês, é mais um entre os vários em estações nas últimas semanas.
"A Liberdade e o centro da cidade já são mais perigosos, mas neste semestre está fora do normal. Praticamente todo dia tem caso", conta Guilherme, que estuda Publicidade e Propaganda em uma faculdade na região. Os relatos, porém, não se restringem somente ao centro. Diante do cenário, o Metrô está firmando uma parceria com a Polícia Militar para empregar um efetivo de 180 agentes para reforçar a segurança. Também instalou portas com detectores de metal em Pedro II e Saúde.
A Polícia Militar e o Metrô de São Paulo informaram na última semana que estão prestes a firmar uma parceria para empregar policiais militares no reforço da segurança nas estações e no seu entorno. "Hoje (segunda) foi a última reunião para finalizar o convênio, que contempla 180 policiais militares", disse ao Estadão o secretário executivo da Polícia Militar, coronel Alvaro Camilo.
O convênio, afirmou ele, deve ser assinado nos próximos dias. "Os policiais vão trabalhar fardados, armados, com rádio, apoiando a segurança do Metrô e isso deve levar, de uma maneira geral, segurança para a população e evitar casos como esses que têm acontecido", disse. A atuação dos agentes nas estações ocorrerá por meio da Diária Especial por Jornada Extraordinária de Trabalho Policial Militar (Dejem), mecanismo que permite a contratação do serviço dos agentes fora do horário de trabalho. A parceria será nos moldes do que já é feito desde o fim de 2019 na CPTM.
Paralelamente, as Estações Pedro II, da Linha 3-Vermelha, e Saúde, da Linha 1-Azul, agora contam com torres de detecção de metal em frente às catracas. Trata-se de um projeto piloto, iniciado no dia 9. Segundo o Metrô, o objetivo é reforçar a segurança nas linhas operadas pela companhia. A medida, continuou, permite ainda a "análise da funcionalidade e elaboração de novas estratégias de atuação".
<b>INSEGURANÇA</b>
Na tarde do último dia 29, o jovem aprendiz Pedro Henrique Silvano, de 16 anos, estava esperando o metrô para voltar do trabalho em uma plataforma da Estação Conceição, da Linha 1-Azul, quando um grupo de três homens se aproximou pedindo informações. "Quando passei, um deles apontou a arma para mim e pediu meu celular."
Os criminosos pediram ainda que ele destravasse o aparelho e o aplicativo de banco. "Era fim de mês, tinha R$ 100 na minha conta só. Gastaram no McDonalds, pelo que vi na fatura depois", conta Pedro, que é morador do Parque São Lucas, na zona leste da capital.
<b>WEB</b>
Nas redes sociais, usuários do Metrô relatam aumento da sensação de insegurança, sobretudo em estações como a Palmeiras-Barra Funda, na zona oeste. A reportagem do <b>Estadão</b> esteve no local nesta segunda-feira e ouviu passageiros e comerciantes. "O pior aqui é nas escadas e rampas de saída. Vez ou outra, escuto uns gritos vindos lá de baixo", conta a comerciante Gisele Freitas, de 29 anos, que trabalha em um estande próximo a uma das saídas há seis meses.
Estudante de Psicologia, Larissa Silva, de 19 anos, acredita que a percepção de segurança tem piorado. "Eu me sinto mais insegura principalmente na Sé e aqui, que tenho de vir todos os dias para fazer estágio", conta ela, que é moradora do Tucuruvi, na zona norte.
Diante do cenário, diferentes medidas de segurança são adotadas pelos usuários. Estudante do curso técnico de vestuário, Damares dos Santos, de 21 anos, anda de metrô somente com pochete há pelo três anos. "Para mim, sempre foi um pouco inseguro."
Como medidas de segurança, o músico Marcos Roberto da Conceição, de 49 anos, conta que só mexe no celular de costas para alguma parede ou próximo de seguranças. Evita também ficar em meio a grandes aglomerações, o que aumenta os riscos de furto. "De uns três anos para cá piorou muito. Até pela pandemia, que explodiu um tanto de problema junto." No início deste mês, uma médica de 28 anos foi assaltada a bordo de uma composição da Linha 2-Verde duas estações antes de seu destino, a Estação Sumaré. Impedida de desembarcar pelo assaltante, que fazia uso de uma faca e levou sua bolsa, ela desceu na Vila Madalena, na zona oeste, e procurou funcionários do metrô, que emprestaram um celular para que ela se comunicasse com a família.
O <b>Estadão</b> também esteve nas Estações Sumaré e Consolação nesta segunda para ouvir usuários da Linha 2-Verde. Cozinheira no Sumaré, Edna Fraga, de 42 anos, explica que "o pior é no entorno, porque às vezes reforçam a segurança dentro, mas esquecem do lado de fora". A sensação é parecida com a do estudante de Relações Internacionais Caio Nakashima, de 18 anos, que todos os dias passa pela Estação Consolação, na região da Avenida Paulista. "Aqui, infelizmente, o problema é a saída, o entorno", conta ele, que diz sempre tirar o headphone antes de sair da estação. "Fico sempre de olho, aqui costumam agir em grupo."
Estagiária em uma empresa nos arredores da Avenida Paulista, a estudante de Direito Bárbara Gamarros, de 20 anos, explica que ao menos cinco pessoas do trabalho dela foram assaltadas ou furtadas nos arredores nos últimos meses. "Eu procuro não pensar muito nisso, senão fico travada."
<b>OUTROS CASOS</b>
No fim de agosto, um grupo de adolescentes foi vítima de arrastão dentro da Estação Tatuapé, da Linha 3-Vermelha do Metrô de São Paulo, na zona leste da capital paulista. No mesmo mês, um policial à paisana reagiu com disparos após sofrer uma tentativa de roubo dentro da Estação Higienópolis-Mackenzie, da Linha 4-Amarela do Metrô. Não houve feridos.
Mas um jovem foi esfaqueado em maio e teve a mão ferida quando chegava à Estação Trianon-Masp do Metrô de São Paulo, na Avenida Paulista, região central de São Paulo. O jovem publicou duas fotos nas redes sociais, onde foi possível ver a mão ensanguentada e com suturas. Ele foi encurralado, por volta das 19h, em uma escada de acesso.
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>