Todos sabem que dirigir e falar ao celular simultaneamente é uma combinação que, além de perigosa, rende uma multa de R$ 293,47 e sete pontos (infração gravíssima) na Carteira Nacional de Habilitação (CNH). No entanto, mesmo assim, muitos condutores insistem em cometer tal infração. Apenas em Guarulhos, no ano passado, foram registradas 8.946 autuações a pessoas que manuseavam um aparelho enquanto dirigiam um veículo.
Muitas vezes, os motoristas não se dão conta do real perigo da prática. O inspetor Tibério de Freitas, da Polícia Rodoviária Federal (PRF), afirmou que uma experiência mostrou bem o risco do mau uso do celular. "Um estudo feito pelo Centro de Experimentação e Segurança Viária (Cesvi) há dois anos revelou que um condutor que responde a uma mensagem, estando a 80 km/h de velocidade, percorre uma distância equivalente a um campo de futebol inteiro às cegas", destacou.
Mas, afinal, por que os condutores insistem em repetir estes atos mesmo com todos os riscos envolvidos? Segundo o professor de psicologia da Universidade Presbiteriana Mackenzie, Eduardo Fraga, somos constantemente impelidos a aprimorar nossas habilidades e conhecimentos nos dias atuais.
"O telefone móvel nos torna disponíveis para nossos contatos pessoais e profissionais. A constante possibilidade de receber ligações ou e-mails pessoais ou profissionais, somada ao imediatismo da comunicação a partir de aplicativos como WhatsApp, impele todos nós a responder prontamente quando somos convocados, sob a pena de um possível julgamento de indisponibilidade ou negligência enquanto meu concorrente – na esfera afetiva ou profissional – seria alguém mais dedicado àquele relacionamento ou tarefa que me foi delegada", avaliou Fraga.
Questionado pelo GuarulhosWeb no cruzamento das avenidas Paulo Faccini e Tiradentes na última terça-feira, 30/04, um motorista admitiu que já cometeu esta infração algumas vezes, porém agora evita. "As pessoas dirigem e usam o celular ao mesmo tempo porque acham que nada vai acontecer. Até que um dia, distraídas, não vão perceber que o carro da frente freou bruscamente. Aí será tarde demais. Justamente quando achamos que estamos no controle, as batidas ocorrem", pontuou.
Para o psicólogo Eduardo Fraga, no entanto, os condutores correm o risco de se acidentarem mais por conta da fragilidade humana do que por excesso de confiança. "Dirigir e simultaneamente falar ao celular representa um fenômeno mais relacionado à lógica de performance que alicerça nossa vida cotidiana do que uma possível ilusão de onipotência e grande habilidade do motorista", analisou o especialista.
Trabalho
Um motorista de aplicativo entrevistado pelo GuarulhosWeb, no centro de Guarulhos, disse que não fala ao celular enquanto dirige. "O aparelho fica preso no painel para eu aceitar ou recusar corridas. Nem tem como ficar conversando. É uma irresponsabilidade de quem faz isto", ressaltou. Porém, ele reconheceu que apenas o fato de olhar para a tela do celular para ver as notificações, já atrapalha. "Qualquer distração no trânsito é prejudicial", admitiu.
Estradas federais
Em 2019, quase 1.000 condutores foram multados em rodovias federais no estado de São Paulo por segurar ou manusear o telefone. "É um número alto, considerando que muitos ajustam sua conduta quando visualizam uma viatura de fiscalização. O desejo da PRF que isso seja feito, mas não apenas por medo de ser multado, e, sim, por perceber que a vida dele e dos outros merece melhor atenção", afirmou o inspetor Tibério de Freitas.
Segundo Freitas, as redes sociais e ligações passam a tomar o foco, que deveria estar totalmente na condução do carro, moto ou outro meio. Tudo aquilo que desvia o olhar do motorista da via leva ele, os passageiros e outras pessoas que estão no entorno ao perigo. "Para escapar da tentação, o aconselhável é colocar o telefone no modo silencioso e, no caso de uso de mapas, programar o destino antes de iniciar a viagem", finalizou.