Em dezembro, quando esteve em São Paulo para a Comic Con, a atriz Tessa Thompson teve um encontro com a reportagem do jornal O Estado de S.Paulo. Foi o que se pode definir como encontro às escuras, porque somente depois, no painel da CCXP, quando conversou com o público, foram apresentadas cenas de MIB – Homens de Preto Internacional, ou MIB 4, o longa que a trouxe ao Brasil. Os três primeiros filmes da franquia foram estrelados por Tommy Lee Jones e Will Smith. Sempre tiveram participação feminina importante, mas o último é de 2012, portanto muito anterior à nova afirmação das mulheres em Hollywood, em parte devido ao movimento #MeToo, que colocou na rua as denúncias de assédio na indústria, mas também por causa do sucesso de Gal Gadot como a Mulher-Maravilha.
A conversa começou pelo mais óbvio – a parceria de Tessa com Chris Hemsworth, o Thor da Marvel (e dos Vingadores), com quem dividiu a cena em Ragnarok e Ultimato. Ela fazia a guerreira Valquíria, lembram? “Acho que foi muito importante essa parceria anterior. Não creio que a química tivesse sido a mesma, se nos encontrássemos somente agora. O filme é muito centrado na dinâmica dos agentes H/Chris e M, a minha personagem. Tem bastante humor, tanto verbal quanto físico, então era importante a familiaridade. Senti-me muito confortável com ele. Chris é casado com uma latina, que são mulheres intensas, de sangue quente. Não creio que tenha problemas em não ser o centro de todas as atenções. Estamos (as mulheres) ampliando nosso espaço, e essa história não tem recuo.”
Sua carreira começou na TV, em 2005 – há 14 anos. Tessa participou regularmente das séries Veronica Mars (12 episódios), Hidden Palms (7), Blue Belle (5), Detroit 1-8-7 (3), 666 Park Avenue (5), Copper (19) e Westworld (5). No cinema, a partir de 2006, ganhou destaque e afirmou-se através de papéis em Selma – Uma Luta pela Igualdade, Creed 1 e 2, as parcerias com Thor e, agora, de novo com Chris Hemsworth, o papel de protagonista em MIB 4. Para uma feminista de carteirinha, não incomoda que a série faça somente referência ao protagonismo masculino, Men (Homens) in Black? “Trata-se de uma franquia que começou há mais de 20 anos. Teria algumas sugestões para mudar o título, mas poderia perder a identificação com o público. O importante é que as pessoas percebam que há algo diferente nessa história, e que não estou ali por acaso.”
Como em toda a série, desde os tempos pré-históricos (brincadeirinha) de Tommy Lee Jones e Will Smith, MIB – Homens de Preto conta sempre a história da agência governamental que monitora a presença de alienígenas na Terra. E, sempre, em algum momento, os ETs tornam-se ameaçadores, com a diferença de que o tom é humorado, e o olhar sobre o outro, o diferente, o bizarro, não visa, como nas ficções científicas dos anos 1950, a explorar o sentimento de paranoia do povo norte-americano. E Tessa até brincou – “Seria um contrassenso participar de um filme como Selma, sobre nossa luta (dos negros) por direitos, e depois fazer outro para acirrar a paranoia. Para isso já basta (o presidente) Trump, com suas violações de direitos humanos.”
“O universo de MIB não foi, de maneira nenhuma, uma novidade em minha vida. Não seria desse mundo, se nunca tivesse ouvido falar dele. Sempre achei muito engraçado aqueles alienígenas. Alguns eram, realmente, muito bizarros, e era preciso muita imaginação dos roteiristas e do diretor (Barry Sonnenfeld) para se superar, de filme para filme, até porque, passada a surpresa inicial, o público sempre queria mais, e mais. A expectativa da gente aumenta, a minha aumentava. E o Will (Smith) é uma referência, e uma inspiração. Você não pode ser negro na América sem ter respeito por um cara como ele, que cavou um espaço tão importante nessa indústria.”
De volta à agente M, e o repórter tinha de acreditar na palavra de Tessa, porque, sem ter visto o filme, estava fazendo as perguntas no escuro. Como ela é? “O que mais agradou nela foi a curiosidade insaciável. M chega à MIB para tentar desvendar os segredos do universo, a partir de um incidente ocorrido na infância e que a marca para sempre. Como agente estagiária, ela trabalha com H/Hemsworth, que é narcisista, arrogante, mas ele termina por reconhecer o valor da parceira, e o filme é sobre isso. Nessa disputa de gênero, é sobre a paridade, e nem eu vi o filme, mas você vai ver que filmamos cenas muito divertidas em que M disputa com H o controle do carro, essas coisas.”
“Um adendo especial – um prazer à parte -, foi contracenar com Emma Thompson, que, nessa nova aventura, faz a poderosa agente O, que logo percebe o potencial de M. Emma tem história na indústria, no Oscar. É uma mulher do seu tempo, e espero que seja mantida uma conversa nossa em que ela reconhece que, apesar do nome, Men/Homens, a agência é formada por homens e mulheres. O próprio H reconhece isso, e também tem uma linha em que diz que estamos todos, homens e mulheres, comprometidos em salvar o planeta. Todo filme é sempre um tiro no escuro, mas, sinceramente, adorei fazer, e espero que o público também goste, para termos mais uma sequência.”
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.