O engenheiro químico Miguel Bahiense, de 39 anos, presidente da Plastivida – Instituto Sócio-Ambiental dos Plásticos, não tem dúvidas que o acordo voluntário feito pela Associação Paulista dos Supermercados (APAS), o Governo do Estado e as principais redes de supermercado que tirou do dia-a-dia dos consumidores o direito de utilizar as sacolinhas plásticas é uma farsa.
Para Bahiense, a população de baixa renda é quem mais está sofrendo com a proibição das sacolinhas e que, para o meio ambiente, o estrago vai ser imenso pois ela não terá como descartar o seu lixo. E alerta: as caixas de papelão e sacolas de pano têm alto grau de coliformes fecais, coliformes totais e o E.coli.
Nesta entrevista, ele garante que as demissões na indústria do plástico são irreversíveis caso o acordo, já questionado na Justiça, tenha prosseguimento.
– Até que ponto o acordo que proíbe as sacolas plásticas nos supermercados pode ser considerado uma farsa?
BAHIENSE – Creio que o argumento ambiental utilizado como justificativa é completamente equivocado. O movimento é claramente econômico. A conta é simples: as sacolas plásticas custam aos supermercados de São Paulo R$ 200 milhões por ano. Naturalmente este valor é embutido no preço dos produtos. Até o dia 24 de janeiro, véspera da oficialização do acordo voluntário, o consumidor ia até o supermercado, fazia as compras e indiretamente pagava pela sacolinha, já que o seu custo estava (e continua) embutido nos preços dos produtos que ele compra. Ainda assim, ele estava comprando uma embalagem para duas aplicações: transportar as compras e embalar o lixo. A partir do dia 25, o consumidor passou a ter que comprar duas embalagens para essas duas coisas. Uma embalagem – as sacolas biodegradáveis ou sacolas retornáveis, para transportar os produtos comprados – e outra, o saco de lixo. Pior, os R$ 200 milhões continuam embutidos nos preços.
– A APAS, idealizadora do acordo, assegura que os supermercados vão repassar esta economia para o consumidor.
BAHIENSE – Os representantes do setor supermercadista têm afirmado que vão oferecer promoções, que vão investir em ações de sustentabilidade, melhoria de serviços, tecnologia etc. Ora, eu sou consumidor antes de tudo e pra mim o que interessa é que o valor que eles repassam para os produtos seja devolvido através da redução dos preços e ponto. Os supermercados sempre fizeram promoções e continuarão a fazer com ou sem sacolas, precisam disso para atrair consumidores por causa da concorrência.
– As sacolinhas são mesmo as vilãs do meio ambiente?
BAHIENSE – Ambientalmente, as sacolinhas comuns são comprovadamente as mais sustentáveis. Para se ter uma ideia, as sacolinhas apresentam a menor emissão de CO2 em seu ciclo de vida, além de consumir menor quantidade de matéria-prima frente às outras opções.
– Mas o senhor não concorda que o termo "biodegradável" é mais sedutor aos ouvidos do consumidor?
BAHIENSE – O termo biodegradável é sedutor, mas confunde a população. Passa a impressão que é algo que vai sumir na natureza sem causar danos. As sacolas biodegradáveis, vendidas aos consumidores, só se biodegradam em condições adequadas de compostagem, ou seja, precisaria de uma usina de compostagem e controlar as emissões. No Brasil, entretanto, não existem usinas de compostagem. Se o nome biodegradável é sedutor para o consumidor, para a ciência é muito pior em termos de impacto ambiental.
– Quantas sacolas plásticas foram consumidas em São Paulo em 2011?
BAHIENSE – Para se ter ideia, em 2007 o Brasil consumiu 17,9 bilhões de sacolas. Em 2011, o consumo caiu 27,9%, e atingiu 12,9 bilhões. Em 2011, o Estado de São Paulo consumiu 5,2 bilhões de sacolas. Esta redução se deve ao Programa de Qualidade e Consumo Responsável de Sacolas Plásticas, capitaneado pela Plastivida em parceria com o INP (Instituto Nacional do Plástico) e a ABIEF (Associação Brasileira da Indústria de Embalagens Plásticas Flexíveis). O programa prevê o uso de sacolas mais resistentes, que suportam até 6 quilos de compra, e na educação ambiental informamos ao consumidor, por meio dos caixas e empacotadores de redes supermercadistas, que ao utilizarem sacolas mais resistentes, eles não precisarão colocar uma sacola dentro da outra. Assim reduz-se o consumo e eliminamos o desperdício.
– Até que ponto a população de baixa renda vai sofrer mais?
BAHIENSE – A população de baixa renda é a que mais utiliza as sacolinhas plásticas para descarte do lixo. A conta também é simples. Antes a população reutilizava as sacolas para descartar o lixo, não importava sua classe social. Agora, sem elas, as classes A e B+ poderão agregar em seu orçamento doméstico os sacos de lixo. E as classes B-, C, D e E? Como comprarão sacos de lixo? Como descartarão seu lixo sem as sacolinhas? Será um problema ambiental, este sim real, pois os que os supermercados argumentam para banir as sacolas são equivocados.
– Quantos empregos diretos a indústria das sacolas plásticas gera no Brasil?
BAHIENSE – A indústria das sacolas plásticas gera mais de 30 mil empregos diretos no país e 70 mil indiretos. No Estado de São Paulo, os empregos são 6 mil diretos e 28 mil indiretos.
– Há riscos de demissão caso o acordo continue?
BAHIENSE – Já existem casos de empresas que demitiram pela diminuição nos pedidos de sacolas plásticas. É natural, não tem remédio.
– Os supermercados oferecem como opção as caixas de papelão. Quais os riscos do consumidor em utilizá-las?
BAHIENSE – Há alto risco de contaminação. Um estudo realizado pela Microbiotécnica, empresa especializada em higiene ambiental, apontou que caixas de papelão e sacolas de pano usadas possuem alto grau de contaminação. Nas sacolas plásticas não foram encontrados coliformes totais, coliformes fecais, nem E.coli (Escherichia coli), enquanto em 58% das sacolas de pano havia a presença de coliformes totais. Já nas amostras de caixa de papelão, 80% apresentavam coliformes totais, 62% coliformes fecais e 56% E.coli .
– O que fazer para o consumidor ter o retorno das sacolinhas plásticas?
BAHIENSE – Existem ações na Justiça paulista. Muitos municípios criaram leis para banir as sacolas plásticas. O Tribunal de Justiça de São Paulo derrubou cerca de trinta leis como estas. O Estado sabe que é inconstitucional banir as sacolas, é o próprio TJ que diz.