Dezenas de milhares de nicaraguenses foram às ruas de Manágua, capital da Nicarágua, neste sábado, para participar da marcha “Pela paz e a Justiça”. A manifestação foi convocada pela Igreja Católica. Desde o dia 18 de abril, cidadãos do país têm realizado uma série de protestos contra a repressão do governo do presidente Daniel Ortega, há 11 anos no poder. O saldo até o momento é de 63 mortos, 15 desaparecidos e centenas de pessoas feridas, segundo órgãos de direitos humanos.
Na manifestação deste sábado, compareceram representantes do setor privado, camponeses e estudantes, que lideraram os primeiros protestos contra a reforma da previdência local. Os camponeses saíram de caminhão na sexta-feira de localidades remotas, para poder chegar a Manágua ao meio-dia de sábado. Também foram registradas manifestações outras cidades nicaraguenses, como Leon, na região oeste, e Matagalpa, no norte. Todas foram marcadas pela reivindicação por justiça.
A crise começou com o projeto do governo de tentar reformar o Instituto Nacional de Segurança Social (INSS) local. De acordo com a mudança, a contribuição dos trabalhadores passaria de 6,25 para 7% a partir de julho. A cota dos patrões subiria de 19% para 21% – e aumentaria gradualmente até chegar a 22,5%, em 2020. A reforma foi criticada por todos os setores: empresários, especialistas e trabalhadores.
A maior reclamação é que as medidas não evitariam a falência do sistema de segurança social, aumentariam o desemprego, a informalidade e diminuiriam o consumo, a competitividade dos produtos nacionais e o clima geral de negócios. Diante da pressão, Ortega recuou e revogou a reforma no domingo passado.
No entanto, a brutal repressão da polícia resultou no assassinato de um jornalista que cobria as manifestações na cidade de Bluefields – ele recebeu um disparo na cabeça durante uma transmissão ao vivo pelo Facebook – e na morte de quatro estudantes da Universidade Politécnica da Nicarágua (Unipoli), executados por policiais dentro do câmpus. Os protestos se intensificaram, em vez de diminuírem.
O Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos pediu uma investigação “transparente” sobre os assassinatos, muitos dos quais poderiam ser “execuções ilegais”.
Ortega, de 72 anos, liderou a revolução de 1979 que pretendia redimir os oprimidos e governa a Nicarágua ao lado de sua mulher e vice-presidente, Rosario Murillo, de 66 anos. Manifestantes questionam o domínio do casal, que mantém controle sobre todas as instituições do Estado: Exército, polícia, Congresso e tribunal eleitoral.
Seus antigos aliados acusam Ortega de minar os ideais sandinistas, de autoritarismo e de nepotismo – seus oito filhos são donos ou diretores de estatais e alguns ocupam cargos públicos. Fonte: Associated Press.