Os militares sudaneses e o primeiro-ministro Abdalla Hamdok, deposto em um golpe no mês passado, assinaram, neste domingo, 21, um acordo que assegura a restituição dele ao cargo e a libertação de presos políticos. O premiê vai liderar o Sudão, sob supervisão militar, até que novas eleições ocorram. Não está claro quanto poder Hamdock terá nem se todos os partidos políticos e grupos pró-democracia assinaram o contrato.
Hamdok está em prisão domiciliar desde que, em 25 de outubro, militares dissolveram o governo e se declararam no comando do país durante o estado de emergência. O golpe se deu dois anos após um levante popular que depôs o ditador de longa data do Sudão, Omar al-Bashir.
O contrato se dá logo após o número de civis mortos na repressão às manifestações contra o golpe subir para 40. Os sudaneses têm saído às ruas em massa para protestar contra os militares.
O principal general do país, Abdel Fattah Burhan, disse, em declarações transmitidas pela televisão, que, agora, Hamdok vai liderar um gabinete tecnocrático independente até que eleições possam ser realizadas. "Ao assinar esta declaração, podemos lançar uma base genuína para o período de transição", disse Burhan.
Na cerimônia de assinatura, transmitida por um canal televisivo estatal, Hamdok disse que "assinatura deste acordo abre as portas o suficiente para enfrentar todos os desafios do período de transição". O premiê agradeceu aos "amigos regionais e globais" do Sudão que ajudaram a chegar ao contrato, mas não citou os países.
Funcionários, que falaram sob condição de anonimato, disseram que a Organização das Nações Unidas (ONU) e os Estados Unidos (EUA), que repudiaram o golpe, desempenharam um "papel crucial" para a elaboração do acordo.
Anteriormente, as Forças pela Declaração de Liberdade e Mudança, grupo que liderou o levante contra Bashir, se opôs a qualquer contrato com os militares. Em uma declaração neste domingo, o grupo reiterou sua oposição a qualquer nova parceria política, insistindo que os autores do golpe sejam levados à justiça. O partido Umma, maior sigla citada pelos militares no acordo, emitiu um comunicado insinuando que não havia assinado.
Milhares de sudaneses saíram às ruas da capital Cartum, pouco antes da cerimônia de assinatura, para denunciar o golpe e exigir a transferência imediata do poder aos civis. Os manifestantes agitaram a bandeira sudanesa e gritaram: "O poder é para o povo! Os militares devem ficar no quartel."
<i>(Com Associated Press)</i>