Os militares que deram um golpe em Burkina Faso, no domingo, 23, confirmaram nesta segunda-feira, 24, na TV estatal que haviam deposto o presidente Roch Kaboré – no poder desde 2015 – , suspendido a Constituição, dissolvido a Assembleia Nacional e fechado as fronteiras do país. Em meio a boatos de que teria sido preso, Kaboré fez um apelo para que os soldados se entregassem.
"Nosso país está passando por momentos difíceis", escreveu Kaboré no Twitter. "Devemos salvaguardar nossas conquistas democráticas. Convido aqueles que pegaram em armas a depô-las, no melhor interesse do país. É através do diálogo e da escuta que devemos resolver nossas diferenças."
Ontem à noite, no entanto, os militares pareciam no controle e anunciaram um toque de recolher das 21 horas às 5 horas. Segundo diplomatas, não se sabe ainda se Kaboré havia sido detido pelos rebeldes ou se estava sendo protegido por soldados leais. Agências de notícias informaram que ele foi preso após um tiroteio perto de sua casa. A embaixada francesa disse que a situação é "confusa". A Air France cancelou dois voos programados para ontem.
Os militares rebeldes, reunidos em um grupo chamado Movimento Patriótico para a Salvaguarda e Restauração (MPSR), disseram que a decisão de depor Kaboré foi tomada para permitir que o país mantenha sua soberania e integridade territorial.
"Diante da deterioração da segurança que ameaça os fundamentos de nossa nação, a manifesta incapacidade de Kaboré de unir os burquinenses para lidar com a situação, e seguindo as aspirações dos diferentes estratos sociais, o MPSR decidiu assumir suas responsabilidades diante da história", afirmou um porta-voz do grupo.
A situação saiu do controle do governo em razão da falta de progresso contra o avanço de grupos jihadistas, que deixou milhares de mortos e milhões de deslocados. Em poucos anos, facções ligadas à Al-Qaeda e ao Estado Islâmico tomaram vastas regiões de Burkina Faso.
"O país está se esfacelando sob a enorme pressão que os insurgentes jihadistas vêm colocando há vários anos", disse Michael Shurkin, ex-analista de inteligência da CIA. "Nem o governo nem as Forças Armadas estão à altura dos desafios que Burkina Faso enfrenta – e a população parece estar à procura de novas soluções."
<b>Revolta</b>
A instabilidade se agravou depois que Kaboré proibiu protestos contra o governo. No domingo, ele tentou evitar o golpe, impôs um toque de recolher e cortou o acesso à internet móvel. Mas não conseguiu evitar que diversos manifestantes invadissem a sede de seu partido e tocassem fogo no edifício.
A disputa pelo poder em Burkina Faso se insere no contexto de uma onda de golpes de Estado na África. Em Guiné, soldados destituíram o presidente Alpha Condé, em setembro, para impedir que ele disputasse um terceiro mandato inconstitucional.
Em agosto de 2020, no Mali, um grupo de militares tomou o poder e instalou um governo civil, prometendo um retorno à democracia – que nunca ocorreu. Em maio, o coronel Assimi Goita destituiu todo mundo e se declarou presidente, pelo menos até as próximas eleições, em dezembro de 2025.
Os militares também tomaram o poder no Sudão, em outubro, interrompendo o processo de transição democrática iniciado em 2019, e no Chade, em abril de 2020, após a morte do presidente, Idriss Déby, para nomear seu filho, Mahamat Déby, como novo líder. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>