O cientista político Eliezer Rizzo de Oliveira avalia que os militares tentam preservar, no governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, os direitos e vantagens, como elevação de salários e condições de aposentadoria, obtidos quando o presidente era Jair Bolsonaro. Para o pesquisador, a desconfiança de Lula nos militares, expressa pelo mandatário em palavras e gestos recentes, é correspondida. Também fardados não confiam no petista, a quem enxergam como "encarnação do mal". Segundo ele, Lula acertou ao não decretar uma operação de Garantia da Lei e da Ordem (GLO) para enfrentar os atos golpistas de bolsonaristas radicais. Assim, avalia, preservou sua autoridade.
<b>Após a fracassada tentativa de golpe de bolsonaristas no dia 8, o governo Lula tem dado demonstrações públicas de desconfiança nos militares. De onde vem isso?</b>
O presidente Lula expressou sua desconfiança nas Forças Armadas, no Exército em particular, em razão da militância por Bolsonaro nos quartéis e do apoio ao movimento bolsonarista contra a sua posse na Presidência. Até agora (Lula) ficou naquilo que não quer dos militares, mas ainda não determinou sua orientação geral para a Defesa Nacional.
<b>O sentimento é mútuo? </b>
Sim, veja-se a militância de militares da ativa e da reserva contra o retorno de Lula: Lula seria a encarnação do mal e da antissoberania nacional. Há militares que enxergam no presidente, no PT e aliados o avanço gramscista do comunismo.
<b>Quando o ato golpista estava em curso, falou-se na decretação de uma operação de Garantia da Lei e da Ordem, mas Lula recusou. Como analisa esse episódio?</b>
O presidente agiu bem ao intervir na segurança do DF, pois preservou intacta sua autoridade num momento de profunda insegurança. Ele enunciou seus motivos ao criticar a atuação da PM, da inteligência e da defesa militar do Planalto.
<b>O que o presidente Lula pretende quando, por exemplo, diz que os militares não são poder moderador?</b>
O presidente Lula pretendeu esclarecer que exerce a autoridade constitucional de chefe de Estado e comandante supremo e não reconhece espaço para a autonomia militar. Pois a tese do poder moderador – correspondendo ao direito das Forças Armadas à intervenção militar e à direção do País – é tese falsa e antidemocrática.
<b>E os militares?</b>
Os militares pretendem a preservação de direitos e vantagens negociados generosamente com Bolsonaro, dentre eles a elevação dos valores dos vencimentos e as condições de aposentadoria. Esperam que não haja mudança forçada em sua formação. Já Lula iniciou a retirada de militares dos milhares de funções da administração civil que exerceram em razão da natureza ultraconservadora e militarista de Bolsonaro.
<b>Como o bolsonarismo afeta as Forças Armadas?</b>
Simples assim: o bolsonarismo considera as Forças Armadas como instituições de governo, à disposição de um ex-presidente despreparado, ideologicamente retrógrado, que enxerga nos adversários inimigos a serem abatidos. O ambiente militar é altamente mobilizado do ponto de vista ideológico conservador.
<b>Um golpe de Estado dos militares é um risco real?</b>
Faço votos de que o ministro da Defesa, os comandantes militares, os Estados-maiores e os corpos de oficiais da Aeronáutica, do Exército e da Marinha voltem-se com reverência para a Constituição e a cumpram sob a autoridade suprema do presidente Lula. Nesta hipótese, não haverá riscos reais de golpe de Estado.
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>