O ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, ressaltou nesta quinta-feira, 7, em discurso durante evento promovido pelo Itaú BBA que o governo precisa focar em reformas estruturais. Ele apontou que o governo foi criticado por propor determinadas reformas neste momento, já que elas não têm impactos fiscais imediatos e serão difíceis de aprovar em meio ao ambiente político conturbado.
Mesmo assim, Barbosa explicou que as reformas passam uma sinalização positiva para os agentes econômicos. “A sinalização de que o Estado tem controle sobre as despesas já se reflete em juro e câmbio”, afirmou. Segundo ele, o governo avalia combinar metas de resultado primário com limites para os gastos públicos já no projeto de lei de diretrizes orçamentárias (PLDO) para o período de 2017 a 2019. Mesmo assim, reconheceu que o debate sobre a reforma da previdência, por exemplo, tem sido prejudicado pelo atual momento político.
Barbosa comentou ainda que o governo se inspirou em exemplos de outros países na proposta de criar um limite para os gastos públicos. Ele mencionou o caso dos Estados Unidos, onde uma das medidas punitivas quando se extrapola os limites é o chamado “sequestro” de recursos do governo. “Combinar estabilização fiscal e creditícia com medidas estruturais deu certo em outros países”, comentou. “Controlando gastos, evitamos a saída de criar receitas fictícias nos projetos orçamentários”, acrescentou.
Ele também reconheceu que, no passado, o governo “desperdiçou tempo” promovendo somente soluções de curto prazo. “Precisamos de medidas de estabilização e estruturais, para que a estabilização não seja desperdiçada”.
Entre os poucos pontos positivos da economia atualmente, Barbosa comentou que a inflação está desacelerando que as contas externas estão melhorando mais rápido do que todos previam, mas reconheceu que isso não será suficiente para tirar a economia da recessão.
O ministro disse que, no campo político, os discursos estão cada vez mais polarizados, com tons “beirando o religioso e messiânico”. “Devemos evitar as guerras econômicas entre a Igreja da Microeconomia do Corte de Gastos e a Igreja da Ressurreição Keynesiana de estímulo de demanda”, apontou.
Política monetária
O ex-presidente do Banco Central Gustavo Franco afirmou durante o mesmo evento promovido pelo Itaú BBA que a autoridade monetária sozinha não vai conseguir resolver o problema da inflação e, nesse contexto, é melhor o BC “não fazer muita marola”. “A política monetária perdeu a eficácia e não dá para o BC ser herói se o resto do time está jogando contra”, comentou.
Falando sobre a recente melhora nas projeções de inflação para este ano na pesquisa Focus, Franco foi bastante cético. “Se a inflação começou a ceder nas últimas semanas, não é porque as pessoas estão percebendo uma situação melhor, é porque nós temos a pior recessão da história. Esse tipo de queda da inflação não é confiável, porque se no futuro a economia se recupera, a inflação volta”, afirmou.
Em painel realizado logo após a fala de Nelson Barbosa, o ex-presidente do BC criticou fortemente o governo, que na sua opinião é o maior responsável pela atual crise. “Parece uma tentativa de ganhar o prêmio Nobel de economia fazendo tudo errado, com desarrumação fiscal, uma política de compadres nas estatais”, afirmou.