Variedades

Montagem resgata ópera de Alberto Nepomuceno

Óperas de autores brasileiros não são presença constante nos repertórios dos nossos teatros. E se isso vale para compositores vivos, é ainda mais verdadeiro no que diz respeito aos nomes do passado. Com exceção de algumas das obras de Carlos Gomes, que ainda mantêm uma presença constante sobre o palco, há uma série de títulos esquecidos, escritos por autores que, na passagem do século 19 para o 20, se dedicaram ao gênero. Um deles é Alberto Nepomuceno, de quem se comemoram em 2014 os 150 anos de nascimento. E, para marcar a data, o Teatro São Pedro promove a partir desta quinta-feira, 25, montagem de Artemis, com Eiko Senda, Inácio de Nonno e Valentina Safatle no elenco, regência de Emiliano Patarra e direção de Roberto Alvim.

A ausência de registros confiáveis torna difícil precisar quando Artemis subiu aos palcos pela última vez. O levantamento do pesquisador Sergio Casoy no livro Ópera em São Paulo, publicado pela Edusp, permite afirmar com segurança, no entanto, que, desde 1952, a ópera não é encenada em São Paulo. São, portanto, mais de 60 anos de ausência, que não combinam com a importância de seu autor.
Nascido em Fortaleza, Nepomuceno fez estudos na Europa, onde foi amigo de Grieg e teve, ainda em vida, obras interpretadas pela Filarmônica de Berlim – ele e Mahler chegaram a conversar sobre a possibilidade de uma montagem de Artemis na Ópera de Viena. De volta ao Brasil, republicano e abolicionista, ajudou a consolidar o Instituto Nacional de Música. E é tido como um dos pais fundadores do nacionalismo musical brasileiro, em especial pelo trabalho com o canto em português.

Mas é importante lembrar que Artemis, mais do que a preocupação com uma música de caráter essencialmente nacional, revela outras facetas de Nepomuceno. A obra, com libreto de Coelho Neto, narra a história de um escultor que, obcecado pelo trabalho em uma escultura dedicada à deusa Diana, abre mão da família e do cotidiano, enredando-se – e perdendo-se – em seu processo criativo. “Apesar do canto em português, não há uma temática nacionalista envolvida”, explica o maestro Emiliano Patarra, que assina a direção musical do espetáculo.
“Nepomuceno se revela sintonizado com o seu tempo, trabalhando um enredo bastante próximo do expressionismo. A influência da obra de Richard Wagner é nítida, com os momentos se encadeando sem interrupção, de forma integrada à trama. A orquestra tem papel protagonista, mas sempre com um equilíbrio entre voz e instrumentos.”

Fazendo sua estreia na direção de óperas, Roberto Alvim diz que tentou levar para o trabalho com o gênero a marca de sua atuação no teatro: “A busca por uma singularidade”. “Assisti a muitas óperas e percebi, em comum, uma tentativa de coreografar a música, o que acaba levando muitas vezes a uma atuação melodramática. Meu teatro lida com o fragmento, o delírio, o fantasmagórico. E esses elementos estão também em Artemis, em que tentei criar uma espécie de estrutura do inconsciente, procurando outro tipo de presença cênica”, afirma o diretor que, na semana passada, estreou o espetáculo Terra de Ninguém.

Para Alvim, a música não precisa ser descrita no palco – antes, deve inspirar nos cantores um caminho. “Eles me perguntavam sobre passagens em que só a orquestra tocava: o que faço agora? E eu dizia: ouça a música, deixe sua sensibilidade agir. Não é preciso ficar o tempo todo encarnando uma personagem. Acho particularmente interessante o modo como a ópera começa simples e, depois de 45 minutos de espetáculo, a simplicidade dá lugar a um sistema complexo que reflete sobre a própria maneira como enxergamos uma obra de arte.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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