A Monte Bravo reduziu sua projeção para o Ibovespa ao final de 2024, de 150 mil pontos para 145 mil pontos, como antecipa ao <b>Estadão/Broadcast</b>, diante de crescentes preocupações com as contas públicas do Brasil. "A elevação da percepção de risco piora relação de risco retorno do ativos brasileiros", afirma o relatório assinado pelo estrategista-chefe e head de research da Monte Bravo Corretora, Alexandre Mathias.
Na visão da corretora, a acomodação da atividade e a desaceleração da inflação dos Estados Unidos sancionam a expectativa de cortes de juros pelo Federal Reserve (Fed) partir de setembro, o que seria positivo aos ativos brasileiros. Porém, incertezas internas podem atrapalhar essa expectativa.
"Infelizmente, enquanto os ativos de risco no mundo inteiro estão em alta, por aqui o ruído político elevou muito a incerteza fiscal e fomentou dúvidas sobre a conduta a partir de 2025", afirma Mathias.
Neste sentido, a Monte Bravo indica que muito da desvalorização cambial em junho deveu-se a fatores internos. No sexto mês de 2024, o dólar fechou cotado a R$ 5,5884 – maior valor desde janeiro de 2022, ainda no pós-pandemia – e acumulou alta de 15,2% no primeiro semestre de 2024, cita.
"Se é verdade que a elevação dos juros nos EUA contribuiu para a alta do dólar nos cinco primeiros meses do ano, a valorização de junho é predominante doméstica, pois os (rendimentos dos) Treasuries caíram no mês", explica.
Conforme os cálculos da Monte Bravo, caso o câmbio se mantenha no nível visto no final de junho contratará quase um ponto porcentual a mais para a inflação de 2025 e levaria a uma elevação da taxa Selic se a meta de inflação for levada a sério.
Mathias avalia que a deterioração "importante" dos ativos brasileiros em junho – o Ibovespa perdeu 7,7% naquele mês e os juros futuros dispararam – pode ser irreversível. "Os novos cenários refletem um governo que não quer ou não consegue buscar o equilíbrio fiscal com a determinação que este desafio requer", avalia.
Segundo a Monte Bravo, no novo desenho, a diferenciação dos cenários não se dá mais pela perspectiva de juros nos EUA, onde o corte em setembro está cada vez mais provável.
Na visão da corretora, o quadro para o restante do mandato presidencial será definido pela extensão do ajuste fiscal mensurado pela evolução do déficit primário e seu impacto sobre a trajetória da dívida e também pela percepção sobre a política monetária que pode ser aferida pela evolução das expectativas do Focus, a partir das trajetórias esperadas para a Selic e para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).
O cenário base da Monte Bravo considera a Selic fechando 2024 em 10,50% ao ano e cedendo a 9,75% até o final de 2025. Já na visão pessimista, as projeções são de 10,50% (2024) e 12,00% (2025).
Quanto à taxa de câmbio, as expectativas bases são de R$ 5,00 (2024) e R$ 5,08 (2025). No cenário de maior deterioração, as estimativas são de dólar a R$ 6,00 no final desde ano e de R$ 6,26 no ano seguinte.
Com 65% de chance, o cenário dominante assume medidas fiscais limitadas que mantêm o primário pouco abaixo de 1% de déficit e um Banco Central (BC) que aceita uma inflação perto do teto em 2025, cortando a Selic até 9,75% – conforme o presidente do BC indicou nas entrevistas recentes. Nesse contexto, o prêmio de risco teria uma melhora impulsionada pelo exterior e depois estabilizaria em um nível abaixo do atual, assim os ativos brasileiros teriam espaço para uma valorização limitada pela perda de credibilidade fiscal e monetária.