Foi durante o banho que o servente Adaílson da Silva, de 21 anos, percebeu que havia algo errado com a água. “Subiu um mau cheiro insuportável”, disse. O pedreiro Vanduir Pereira de Lima, de 44, viu a cor amarronzada logo que abriu a torneira para encher o balde. Já a cabeleireira Patrícia de Souza, de 32 anos, e a filha de 6 não tiveram tanta sorte e só sentiram o dano após ingerir o líquido. “No mesmo dia já fiquei com cólica e diarreia e minha filha ficou internada com infecção intestinal”, conta a mulher.
Há uma semana, moradores de ao menos cinco ruas no Jardim Paulistano, bairro no extremo da zona norte da capital, próximo da Serra da Cantareira, recebem em casa uma água escurecida e com cheiro de esgoto da rede da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp). Segundo os relatos, o problema ocorre sempre momentos antes dos cortes no abastecimento feitos pela empresa, à tarde, e assim que a água volta, pela manhã. O jornal O Estado de S. Paulo constatou a má qualidade da água no local na tarde da última sexta-feira.
“O técnico da Sabesp veio aqui, analisou a água, andou pela rua e disse que há uma contaminação por vazamento em uma rede de esgoto próxima da rede de água”, disse a moradora Marli Bastos da Silva, de 52 anos, estudante de Pedagogia. Ela contou ter ouvido do funcionário da companhia que a infiltração ocorria por causa da baixa pressão da água na rede. “Isso sempre acontece quando a pressão da água cai”, disse o zelador Belmiro José Nascimento, de 60 anos.
O Jardim Paulistano é um dos bairros da zona norte da capital abastecidos pelo Sistema Cantareira, principal manancial paulista que desde 2014 sofre com a pior estiagem de sua história. No início do ano, o diretor metropolitano da Sabesp, Paulo Massato, admitiu que a região é a mais afetada pela redução da pressão nas tubulações, uma das manobras de racionamento feitas pela companhia para economizar água. Onde não há válvulas redutoras de pressão (55% da Grande São Paulo), os técnicos da empresa fecham o registro manualmente nas ruas.
Em fevereiro, um dirigente da Sabesp admitiu ao Estado que as manobras podem deixar trechos da rede de distribuição, principalmente em pontos mais altos e afastados, despressurizados. Desta forma, um líquido presente no lençol freático poderia infiltrar na rede por alguma rachadura e contaminar a água. Em depoimento na CPI da Câmara Municipal naquele mês, Massato disse que esse risco só poderia acontecer em caso de rodízio de água, quando o abastecimento é cortado por dias.
No mês passado, veio a público o primeiro caso confirmado pela Sabesp de contaminação de água. Segundo o presidente da companhia, Jerson Kelman, 26 casas no bairro do MBoi Mirim, extremo da zona sul paulistana, receberam água poluída. “É um acidente lamentável. Isso tem de ser evitado, mas aconteceu. Fomos lá e remediamos”, disse, sem revelar o motivo da contaminação.
Assim como aconteceu no MBoi Mirim, os moradores do Jardim Paulistano foram orientados por técnicos da Sabesp a dispensar toda a água estocada em casa e a lavar as caixas dágua. “Tivemos de jogar tudo fora e comprar água mineral. É prejuízo dobrado, porque essa água da Sabesp será cobrada”, disse o pedreiro Vanduir de Lima, que mora na Rua do Mutirão. As outras casas afetadas ficam nas ruas União, Nicarágua, Santo Dias e Estrela DAlva. “Tem muita gente com diarreia, coceira na pele, dores abdominais e vômitos”, afirmou a vizinha Marli.
Amostras colhidas
Procurada na última sexta-feira, a Sabesp não revelou o motivo da contaminação da água no bairro. Em nota, informou que técnicos da companhia “colheram amostras e, após análise, caso seja confirmada qualquer alteração na qualidade da água, a Sabesp vai continuar atuando prontamente para eliminar causas e realizar os procedimentos de limpeza na rede”.
A empresa informou ainda que uma equipe fez inspeções nas redes de coleta de esgoto e distribuição de água do bairro e visitou os imóveis onde há queixas de contaminação. “A Sabesp fará o abatimento correspondente à quantidade utilizada de água para eventuais limpezas realizadas nas caixas dágua”, concluiu.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.