Noticia-geral

Moradores da Rocinha não se surpreendem com a chegada de militares

A movimentação das forças de segurança que chegaram na tarde desta sexta-feira, 22, à favela da Rocinha, na zona sul do Rio, pode espantar moradores de outras cidades ou de bairros mais valorizados do Rio, mas não causa nenhuma surpresa a quem vive nessa comunidade. “Já vi isso tantas vezes que já me acostumei”, conta o eletricista Carlos, de 34 anos, morador da parte baixa da favela. Com outros três amigos, ele assistia à chegada dos militares acomodado numa cadeira de plástico, enquanto bebia cerveja e beliscava uma porção de batatas fritas em um bar tão movimentado quanto precário situado à margem da Auto Estrada Lagoa-Barra. A três metros dele, uma placa trilíngue instalada há anos anuncia, com letras coloridas: “Bem-vindo/Welcome/Bienvenido Rocinha”.

“Ruim foram esses últimos dias, quando teve tiro a noite inteira. Agora vem aquela parte da polícia entrar, os traficantes fogem e a situação se acalma até o próximo capítulo”, previa Carlos, enquanto via a si próprio pela TV, ao fundo numa imagem geral exibida pela Globo. Ao final da participação ao vivo do repórter, burburinho e brincadeiras: “Vai virar ator da novela das nove, hein?”, ironizavam conhecidos do eletricista. “Tá vendo, ainda vou ficar famoso”, emendou Carlos, enquanto um de seus colegas, que preferiu não se identificar, completa: “Em Ipanema e na Barra (da Tijuca) a galera toma cerveja vendo mulher bonita na praia. Aqui a gente vê os milicos passando com tanques de guerra”.

Enquanto centenas de militares chegavam à Rocinha, em grupos de pelo menos 20, e se dirigiam aos principais acessos da favela, às 17h30 desta sexta-feira centenas de moradores da Rocinha chegavam após mais um dia de trabalho. Outros começavam a labuta, como Márcio, de 43 anos, que esquentava uma churrasqueira para começar a vender espetinhos de carne. “Espero que volte ao normal. Nos últimos dias ninguém queria parar, todo mundo ficou assustado”, avaliou.

“A gente não devia se acostumar com isso, porque indica que alguma coisa está muito errada, mas vivemos assim, de tiroteio em tiroteio, operação em operação”, afirma a faxineira Maria Helena, de 59 anos, 28 deles vividos na Rocinha. “Um tempo melhora, outro piora, mas tranquilo mesmo nunca foi”, diz.

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