Pneus amontoados junto a pedaços de madeira no meio da avenida Guinle, na Cidade Satélite de Cumbica, davam o tom da revolta dos moradores da favela São Judas Tadeu, que sofreram na madrugada de ontem com o alagamento de diversas habitações por conta das chuvas que atingiram a região.
A Polícia Militar (PM) chegou a tempo de impedir que os populares ateassem fogo no material e acabassem de interditar a via para protestar. Sofás e colchões molhados, geladeiras inundadas, lamas por todos os lados e até ratos mortos eram vistos na comunidade.
Segundo os moradores, é a primeira vez que uma enchente destas proporções atinge o local, graças a uma obra da Prefeitura em um córrego da região. "Toda a água do Santos Dumont desemboca aqui. Faz oito meses que a Defesa Civil veio, quando pedimos um muro de arrimo. Eles registraram a queixa e não voltaram mais", desabafa a doméstica Maria Morais. 42 anos.
O ajudante geral Germiliano de Jesus, 33, conta que até sua geladeira foi atingida. "Molhou o sofá, o armário tive que esvaziar e jogar fora o arroz e feijão. Até o guarda-roupa, que comprei há oito dias, já molhou", relata.
Nos corredores da favela, água e lama se misturavam, enquanto moradores aumentavam em 40 centímetros as muretas que existiam em frente às casas, que eram de aproximadamente 30 centímetros.
A dona de casa Cristina Aleixo, 25, mostrava desolada os estragos. "A água entrava que nem cachoeira. Molhou o colchão dos meus filhos, não tinha pra onde correr", lamenta. "A Polícia fala pra gente não protestar, que temos que esperar, mas de aguardar ninguém vive".
Grávida de seis meses do primeiro filho, a dona de casa Daniele de Oliveira, 17, ajudava seu marido Paulo Roberto da Silva, 22, a limpar sua moradia. A cama do casal acumulava roupas, imóveis e tudo o que conseguiu ser salvo. "Já estava tudo cheio de água quando comecei a subir as coisas", conta.
Intransitáveis – Não muito longe dali, nas ruas Montes Claros e Santa Vitória, também travessas da avenida Guinle, a situação começava a voltar à normalidade. Área de empresas e tráfego de veículos pesados, as ruas ficaram tomadas por lama e poças de água. "Os caminhões têm dificuldades para andar aqui. Quando chove, precisamos de bote", diz o arrumador Edivaldo Oliveira, 38.
A poucos metros dali, uma placa da Operação Asfalto (OPA) anuncia a pavimentação, recuperação de guias, sarjetas e drenagem. Prontamente rebatida pelo ajudante de transporte, Damião Pereira, 31. "Nunca ouvi nada de pavimentarem aqui, nem vi alguém da Prefeitura na região", finaliza.
A reportagem questionou a Prefeitura sobre obras de pavimentação, no córrego, construção de muro de arrimo na comunidade, planos de auxílio às famílias prejudicadas e planejamento de transferência para outras localidades, porém, até o fechamento desta edição, não houve respostas.