Pelo menos 50 moradores do Complexo do Alemão, na zona norte do Rio, fizeram um ato no início da tarde deste sábado para pedir paz na comunidade. Dezenas de policiais, armados com fuzis, acompanharam o grupo. A manifestação durou uma hora e meia e terminou sem registro de tumulto.
Os moradores se concentraram no entorno da estação Palmeiras, a última do teleférico, e caminharam até a Estrada do Itararé, na Grota. O grupo cantava o rap “Eu só quero é ser feliz” e levava faixas com críticas à Unidade de Polícia Pacificadora (UPP): “A paz no Complexo do Alemão é feita de morte!”, “Pacificação sem oportunidade e educação é como apagar o fogo com gasolina” e “Mães do Complexo não aguentam mais perder seus filhos. Queremos paz. Fora UPP”.
O Alemão foi ocupado por forças de segurança no fim de 2010 e as UPPs começaram a funcionar a partir de julho de 2012, quando soldados do Exército deixaram as favelas. Durante a caminhada, manifestantes usaram sprays para grafitar muros com mensagens como “+ Paz – Tiros + Amor”, “SOS Complexo do Alemão”, “Paz ou Ficção?” e “Essa guerra não é nossa”.
No Largo do Cruzeiro, palco de recente conflito armado, eles gritaram os nomes de 15 vítimas da violência na comunidade. Catorze eram moradores e um, policial militar, disse Thamyra Thamara, do coletivo Ocupa Alemão. Em seguida, o grupo rezou o Pai Nosso. Os conflitos no Complexo do Alemão ficaram mais intensos a partir de março e voltaram a aumentar depois da Copa do Mundo. Pelo menos três pessoas morreram nas últimas semanas.
Uma das participantes do ato foi a microempresária Denise Morais da Silva, mãe do mototaxista Caio Silva, morto em 27 de maio. “Um soldado da UPP Nova Brasília (uma das favelas do complexo) matou meu filho de 20 anos sem ele ter envolvimento com nada. Estou aqui hoje para me juntar a todas as mães e pedir paz. Eu não faço apologia do tráfico. Espero Justiça”, afirmou.
Um garoto de 14 anos, baleado em 27 de julho, estava com o braço direito enfaixado e o olho direito tampado – segundo ele, a bala ficou alojada no olho. “Eu só quero que o Complexo volte a ser o que era. Muitos jovens estão morrendo”, declarou. O comerciante local Cléber Araújo, de 38 anos, afirmou que o tio da mulher dele foi assassinado com um tiro no peito há 15 dias. “Aqui, a bala não é de borracha.”