Cerca de 400 moradores do Cecap e bairros próximos como Vila Barros protestaram na manhã deste sábado, 15, contra a realização do Guarulhos Fest Show, evento anunciado pelo prefeito Lucas Sanches, para ocorrer uma uma grande área do bairro. Eles denunciam irregularidades na obra de uma arena de eventos, localizada ao lado dos condomínios residenciais da região, como Alagoas e Sergipe, além de estar ao lado de uma creche e a menos de 500 metros do Hospital Geral de Guarulhos.
A reunião, organizada pelos próprios moradores, denunciou uma série de irregularidades, falta de diálogo da Prefeitura com a comunidade e riscos ambientais e estruturais provocados pela obra. O GWEB acompanhou o movimento e ouviu lideranças políticas, moradores, síndicos e especialistas que estiveram presentes.
Um dos principais pontos de revolta dos moradores é que a obra teria sido iniciada sem qualquer comunicação oficial à população. Síndicos afirmam que não houve reunião prévia, não houve apresentação de projeto, não foram fornecidos estudos de impacto e não há qualquer placa com informações sobre responsável técnico, empresa executora ou autorização o que é ilegal em obras públicas ou privadas.
Moradores foram surpreendidos há pouco mais de uma semana com barulho constante de máquinas, poeira, desmatamento e movimentação intensa de caminhões na área.
“Sem dinheiro público”
Em suas redes sociais, o prefeito Lucas Sanches declarou que o evento “não está usando nenhum centavo de dinheiro público”.
Entretanto, moradores afirmam e o GWEB constatou que os caminhões, equipamentos e funcionários pertencem a empresas que já prestam serviço à Prefeitura de Guarulhos.
Além disso, nenhum documento foi apresentado aos moradores e lideranças comprovando patrocínio privado, contrato, permissão do terreno ou autorização da CDHU.
Terreno é da CDHU
O terreno pertence à CDHU, que foi questionada pelo GWEB sobre a permissão de uso para o Show, licenças ambientais, justificativas para o desmatamento, e a relação disso com sua política ambiental.
Até o momento, a CDHU não respondeu.

Moradores antigos afirmaram ao GWEB que a área desmatada era totalmente arborizada, abrigava três nascentes, possuía fauna local com diversas espécies, é considerada uma região de proteção ambiental informal e funcionava como área de respiro entre os condomínios.
A preocupação é que a obra, feita às pressas, traga danos irreversíveis à flora, à fauna e aos corpos d’água presentes no local.
Diversos moradores relataram que caminhões e máquinas pesadas operando diariamente, muitas vezes fora do horário permitido, que estão provocando rachaduras nas paredes e ruídos sonoros aos moradores que precisam trabalhar ou cuidar de seus filhos.
Síndicos afirmam que já há registros fotográficos desses danos e que relatórios técnicos serão enviados ao Ministério Público.
Ex-prefeito Elói Pietá critica falta de transparência
Entre os políticos presentes na reunião, o ex-prefeito Elói Pietá que falou sobre diversas regularidades dessa obra.
“Tudo o que está sendo feito em termos de obras está na ilegalidade. Não tem placa indicativa de quem é o responsável. As empreiteiras que estão fazendo a obra são empreiteiras que trabalham pela prefeitura de Guarulhos.
Então, é falso o que o prefeito disse, que não tem gasto público nenhum. É muito gasto, é uma imensa obra que está sendo feita. E numa região de proteção ambiental, que é necessário ter licenças ambientais.”
Pietáà também criticou a ausência de documentos oficiais e o fato de a CDHU, dona do terreno, não ter se manifestado.
O ex-prefeito Guti também esteve no ato, apoiando a população.
“Todos os moradores me falaram que não são contra nenhum tipo de festa, nenhum tipo de atração. O problema é o local.
Está agredindo demais os moradores do Cecap, porque está rachando dentro dos condomínios e as pessoas estão com medo. A questão ambiental, a fauna e a flora está sendo agredida, a gente tem corpos hídricos afloramento naquela região, então está tudo muito preocupante. E isso faz com que a gente tenha que estender uma mão, auxiliar.”
Guti informou que disponibilizará seu corpo jurídico para auxiliar os moradores na ação que será movida para impedir a continuação da obra.
Andréia, representante do Condomínio Alagoas e síndica, foi firme ao expor o impacto direto nos moradores:
“Então, a obra, acredito que faltou muitas informações no início e que não teve o planejamento necessário, pelo menos que foi passado para a gente. Então, uma obra que já desde o início já está trazendo transtorno porque não estão respeitando o horário. Então, traz poeira, ruído, a sujeira.
E pós a finalização dessa obra, esse evento é um evento de grande porte que o Parque Cecap, que é o bairro, não comporta essa estrutura de trânsito.”
Andréia confirmou que os condomínios, junto a advogados e ao Ministério Público, tomarão medidas legais.
Abaixo-assinado
Um abaixo-assinado criado pelos moradores já conta com centenas de apoiadores do Cecap , denunciando todo esse caos que o prefeito esta criando que ira para justiça com ações judiciais.
Após o encerramento da reunião, os moradores decidiram seguir juntos até as entradas do canteiro de obras e realizar um bloqueio simbólico para impedir a passagem de caminhões e máquinas. A mobilização, que reuniu centenas de pessoas, buscou pressionar o poder público pela imediata paralisação das intervenções no terreno. A Polícia Militar chegou ao local, mas a situação foi conduzida de forma pacífica, sem confrontos, com os moradores reforçando que o ato era ordeiro e tinha como objetivo apenas proteger o bairro e exigir transparência sobre o projeto.

A reunião definiu que a comunidade avançará com ações judiciais e pedidos de embargo.

