Ousada, a cantora lírica norte-americana Maria Ewing, que morreu ontem, aos 71 anos, ficou famosa não só pela versatilidade, mas por aparecer nua na cena final da ópera Salomé, de Richard Strauss, montagem realizada em 1988 e dirigida por seu marido Peter Hall, da Royal Shakespeare Company. A ideia de despir Maria Ewing, contudo, não partiu do encenador, mas da própria cantora, que pretendia dar mais veracidade à dança dos sete véus de Salomé – realismo que foi aceito e transmitido pelo Channel 4 na Inglaterra, causando sensação entre fãs.
Maria Ewing, que é considerada pelos críticos como uma das melhores intérpretes da ópera Carmen, de Bizet, e foi aclamada como Katerina Ismailova em Lady Macbeth do Distrito de Mtsensk, de Shostakovich, na Ópera de Paris, em 1993, estava afastada das grandes produções desde 1997, quando passou a dedicar seu tempo a recitais em que misturava standards do jazz e árias de óperas.
A cantora começou a carreira com uma bem popular, Così fan Tutte, de Mozart, fazendo o papel de Dorabella, em 1978. Quatro anos depois ela conheceu o diretor Peter Hall. Casaram e tiveram uma filha, Rebecca Hall, que estreou recentemente na direção com o cativante Identidade, filme da Netflix que tem muito a ver com a própria vida da mãe, mestiça, filha de uma holandês com um afro-americano.
Nascida em Detroit, em 1950, Maria Ewing foi a mais nova de uma família de quatro irmãs. Em Identidade, ela se identifica com a personagem Clare (Ruth Negga), que é negra, mas vive como branca, tendo como amiga uma outra mulher negra, Irene (Tessa Thompson).
Cantando papéis de soprano e de mezzo-soprano, seu amplo repertório foi de Don Giovanni, O Barbeiro de Sevilha e Tosca, até obras contemporâneas como O Castelo do Barba Azul, de Bartók, e Wozzeck, de Alban Berg.