Colega do filósofo Michel Foucault no Collège de France, o arqueólogo e historiador francês Paul Veyne morreu hoje, dia 29, aos 92 anos, de causa não revelada. Veyne tem muitos dos seus livros traduzidos no Brasil, sendo considerado um dos maiores especialistas em história antiga, especialmente a grega e a romana. Entre os títulos de sua autoria e que foram publicados aqui estão Os Gregos Acreditam em Seus Mitos?, lançado pela editora da Unesp em 2014, e Pão e Circo: Sociologia Histórica de um Pluralismo Político, publicado pela mesma editora um ano depois. Em nota à imprensa, a editora lamentou a morte do professor da Universidade da Provença e da École Pratique des Hautes Études.
A Unesp lançou títulos fundamentais de Veyne. Entre eles estão Elegia Erótica Romana: O Amor, a Poesia e o Ocidente e Ensaio sobre a Imaginação Constituinte. Em seu percurso como historiador, não fez concessões, nem mesmo quando Raymond Aron indicou Veyne para o Collège de France. Sua independência ideológica foi tamanha que jamais se definiu como um seguidor de seu protetor, com quem rompeu. Tampouco tinha simpatia por Sartre. Enfim, ninguém poderia acusar o professor de ter uma visão de direita ou de esquerda, o que não significa neutralidade, mas justiça histórica, no caso de Veyne.
Sem fugir do compromisso social ou da exposição pública, Veyne comentou em público até mesmo a doença degenerativa que deformou seu rosto com a mesma franqueza com que expôs sua indignação quando o Estado Islâmico vandalizou Palmira, escrevendo um valioso testemunho em forma de livro, condenando a destruição da história pelos muçulmanos.
Criado na Provença, Paul Veyne nasceu em 13 de junho de 1930 e descobriu sua paixão pela arqueologia aos oito anos, quando achou uma ânfora perto de sua casa, em Cavaillon. Sensível, Veyne cresceu cercado de intelectuais, sendo amigo de poetas e escritores. Jovem, logo ao chegar a Paris ficou próximo de intelectuais de esquerda e filiou-se ao Partido Comunista Francês. O namoro durou quatro anos, sem muita convicção. Crítico, Veyne condenou o tratamento concedido aos argelinos pelo poder colonial, mas sua posição nunca foi a de militante esquerdista. Era, antes, um observador com estrito senso moral, que preferia escrever do que partir para a ação.
Não era como Foucault, sobre quem, aliás escreveu um ensaio fundamental. Admirava o seu jeito revolucionário de refletir sobre a história, mas, antes, preferiu ser seu intérprete que cúmplice. Várias vezes premiado (a última no ano passado com a medalha do Senado Francês) Veyne foi um homem movido pela curiosidade. Não tinha particular interesse em sexo, poder ou dinheiro, as três coisas que movem um ser humano, no dizer do dramaturgo suíço Friedrich Dürrenmatt. Viveu uma vida comparável à experiência existencial de Montaigne. Quando lhe perguntavam que era seu pensador favorito, apontava sempre Aristóteles. Foi um esnobe e um aristocrata, mas nos ensinou o caminho para abstração, justificava.