Morreu neste domingo, 7, em São Paulo, aos 92 anos, o poeta paulistano Paulo Bomfim, membro da Academia Paulista de Letras. Ele estava internado no hospital Benificência Portuguesa.
Apaixonado por São Paulo e amigos dos modernistas de 1922, que frequentavam a casa de seu avô, Paulo Bonfim deixa um legado de 37 livros, o primeiro deles Antonio Triste, de 1946, prefaciado por Guilherme de Almeida, que deu ao autor o prêmio Olavo Bilac da Academia Brasileira de Letras. Descendente dos pioneiros fundadores da cidade, Bomfim, filho do médico Simeão dos Santos Bomfim, nasceu em 30 de setembro de 1926 e viveu sua infância e juventude no centro da cidade, na rua Rego Freitas.
Sensível às mudanças pelas quais passava a metrópole nos anos 1940, esboçou, em Antonio Triste, o perfil dos marginalizados na figura de um homem alto e maltrapilho que só é visto à noite perambulando pela cidade, sendo por todos ignorado – menos pelo poeta, um cronista que descreveu São Paulo como poucos, inclusive em seu programa Passeios da Memória, na Rádio Cultura, no ar até poucos dias antes de sua morte.
Esse apego nostálgico a uma São Paulo de famílias tradicionais e, ao mesmo tempo, aos tipos anônimos que a tornam viva, fez com que o crítico e tradutor Sérgio Milliet descrevesse o poeta como um “neomodernista”, justificando o adjetivo, em seu “Panorama da Moderna Poesia Brasileira”: “Bomfim segue o modernismo sem apelar a exageros ou recorrer ao fetichismo verbal” – de seus amigos da Semana de Arte Moderna de 1922. “Ele é um modernista que não desdenha a rima, a perfeição métrica e o soneto”, definiu Milliet.
Amigo de Mário e Oswald de Andrade, de Tarsila e Anita Malfatti, Paulo Bomfim foi criado na casa do avô, Sebastião Lébeis, onde se reuniam Olavo Bilac, Guilherme de Almeida e a pianista Guiomar Novaes, entre outros. Incentivado por Monteiro Lobato, criou um jornal dirigido às crianças na juventude. Em quase tudo o que escreveu, as tradições e a história de São Paulo estavam presentes. Considerava-se um defensor dos ideais da Revolução Constitucionalista de 1932, dividindo a cidade em antes e depois dela – segundo Bomfim, a metrópole perdeu suas características após o conflito .
Embora admitisse a influência de Bilac, Guilherme de Almeida e Vicente de Carvalho, ele sempre citava Jorge de Lima e Cecília Meireles como seus poetas favoritos, não esquecendo de mencionar Manuel Bandeira. Essa admiração pela modernidade contrastava com seu apego à tradição – tanto que seu livro predileto, entre os tantos que escreveu, era Armorial (1956), com ilustrações de Clóvis Graciano, que, segundo o poeta, trazia, como os brasões, seus “mortos de volta”.
E eram mortos históricos. O trisavô fundou a cidade de São Carlos do Pinhal. O sexto avô criou Pindamonhangaba. Ele recriou São Paulo em versos, rememorando sua infância e as brigas com os garotos do Bexiga, os namoricos com as meninas do colégio Caetano de Campos, as aulas de boxe com o tio do campeão Eder Jofre, os treinos de natação no rio Tietê. Atleta, ele foi também boêmio, frequentador do Nick Bar, onde ficou amigo de Elizete Cardoso e Aracy de Almeida. Muitos compositores fizeram músicas baseadas em poemas seus, entre eles Oswaldo Lacerda e Camargo Guarnieri. Fundador da revista cultural Diálogo, ele publicou traduções de poemas de T.S. Eliot e Ezra Pound.