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Morre Ethevaldo Siqueira, pai do jornalismo de tecnologia no Brasil

O pai do jornalismo de tecnologia no Brasil está offline. Aos 90 anos, morreu na noite deste domingo, 16, o jornalista Ethevaldo Siqueira, pioneiro da cobertura tecnológica no País. Ele estava internado em São Paulo, no hospital Oswaldo Cruz, para o tratamento de leucemia. Deixa esposa, dois filhos, cinco netos e uma bisneta. O velório será nesta segunda-feira, 17, às 14h no Velório Samaritano, e o enterro será no Cemitério da Bom Pastor às 16h, ambos em Ribeirão Preto (SP).

Entre 1967 e 2012, o paulista de Monte Alto (SP) esteve nas páginas e site do <b>Estadão</b>, onde ocupou os cargos de repórter, editor, repórter especial, colunista e blogueiro. Nos últimos quatro anos, Ethevaldo retomou a parceria com o Grupo Estado com a coluna <i>Mundo Digital</i> na <i>Rádio Eldorado FM</i> – a última aparição dele foi em 14 de outubro.

Com o olhar voltando sempre para o futuro, Ethevaldo descreveu o desenvolvimento de diversas tecnologias no Brasil e no mundo. Em 15 de fevereiro de 1993, mais de dois anos antes da estreia da internet comercial no Brasil, ele escreveu no <b>Estadão</b>: "O mundo assiste a uma nova revolução no mundo da informática e da telecomunicações: a revolução das redes de voz e de dados. Ela é o resultado da crescente capacidade de comunicação dos computadores". Era sinal de que o mundo digital alteraria para sempre a humanidade.

Com o crescimento da importância do tema no dia a dia, o trabalho de Ethevaldo pavimentou o caminho para a existência de editorias e veículos especializados – um legado que o Link, a editoria de tecnologia do <b>Estadão</b>, carrega ainda hoje.

A capacidade de antever tendências e traduzir aspectos técnicos e científicos da tecnologia renderam a Ethevaldo dois Prêmios Esso. O primeiro foi em 1969 com a reportagem "Eis a São Paulo: Ano 2000", que mostrava como a capital paulista se preparava para o novo milênio. O segundo veio nove anos depois, com a reportagem "O mundo eletrônico dos Anos 80".

<b>Telecomunicações</b>

Como todo jornalista de tecnologia descobre durante a carreira, Ethevaldo precisou manter um pé também no presente. Em boa parte de sua carreira, entre as décadas de 1970 e 1990, ele se dedicou à cobertura do avanço das telecomunicações, incluindo os aspectos políticos do tema, como políticas de inclusão, regulação do setor, disputas comerciais, monopólio e privatização.

Isso fez dele uma das principais autoridades no assunto no País. Assim, ele fundou e dirigiu as revistas <i>RNT</i> (Revista Nacional de Telecomunicações (de 1979 a 2001) e <i>TelePress Latinoamérica</i> (de 1991 a 2001). Além disso, ao menos seis de seus livros trataram do tema.

Embora já falasse de eletrônicos de consumo na década de 1970, como sistemas de som para veículos, foi a partir da década de 2000 que o jornalista passou a caçar tendências que se tornariam populares nos eletrônicos das duas décadas seguintes.

Em 2001, ele falou sobre a revolução do Bluetooth nos dispositivos móveis, sobre a possibilidade de eletrônicos serem comandados por voz (olá, Alexa!) e sobre como chips com nanotransistores poderiam transformar celulares em computadores poderosos.

Neste último exemplo, a reportagem foi publicada seis anos antes do lançamento do primeiro iPhone. Atualmente, o chip A16 bionic, do iPhone 14 Pro, tem tecnologia de quatro nanômetros, o que torna a previsão de Ethevaldo em realidade.

Antes mesmo das coberturas de ciência e tecnologia se aproximarem, Ethevaldo também acompanhou de perto o desenvolvimento da corrida espacial, visitando os programas Apollo e Space Shuttle, da Nasa, além de cobrir lançamentos espaciais feitos pela União Soviética e Rússia. Em 2019, ele relembrou os 50 anos da conquista da Lua.

<b>Tendências</b>

Na busca por tendências, o jornalista fez cobertura presencial de alguns dos principais eventos de tecnologia no mundo, como a CES, nos EUA, e a IFA, na Alemanha. Seus livros passaram a tratar do impacto da tecnologia na vida das pessoas. O último deles, <i>Para Compreender o Mundo Digital</i>, foi publicado em 2008 e reunia colunas feitas para o <b>Estadão</b> e para a rádio <i>CBN</i>, onde manteve a coluna Mundo Digital entre 2006 e 2017.

Entre 2005 e 2013, foi colaborador especial das revistas <i>Veja</i> e <i>Época</i>. O trabalho rendeu a ele o Prêmio Comunique-se 2007, na categoria Jornalista de Tecnologia.

Além disso, foi professor de Tecnologia da Informação e Telemática do Curso de Jornalismo da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP), entre 1986 e 1996. A ligação dele com a ECA era de longa data. Em 1967, ele cursou jornalismo na primeira turma da faculdade – o <b>Estadão</b> registrou a aprovação dele no curso.

Curiosamente, porém, essa não é a memória mais antiga do jornalista com o <b>Estadão</b>. Em seu blog, ele contou como seu pai, Bento Siqueira, conheceu a sua mãe, Mercedes, com a ajuda de um anúncio classificado no jornal – e celebrava o resgate da informação graças ao mundo digital.

Quando deixou o jornal, em 2012, disse que não se aposentaria. Mais uma vez, sua previsão se provou correta. Recentemente, vinha tratando de temas altamente futuristas em suas colunas, como aviões elétricos e modelos avançados de inteligência artificial para a geração de imagens, como o DALL-E 2, um dos principais assuntos do ano no segmento. Além da coluna da <i>Rádio Eldorado</i>, ele mantinha atualmente o site <i>Mundo Digital</i>, com informações e dicas sobre o mundo da tecnologia.

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