Existem atores que permanecem nas sombras, eternos coadjuvantes, mas são tão bons que roubam a cena dos astros. George Kennedy era dessa estirpe. Contracenou com John Wayne, Kirk Douglas, Lee Marvin, James Stewart, Cary Grant, Burt Lancaster, Paul Newman. E as mulheres – Bette Davis, Ava Gardner. Às vezes, nem se sabia com quem contracenava – o espectador só tinha olhos para Kennedy. No domingo, 28, enquanto a Academia de Hollywood celebrava sua festa para os melhores do cinema, ele estava morrendo em sua casa em Boise, Idaho.
George Kennedy tinha 91 anos e o neto Cory Schekel, que deu a notícia no Facebook, acrescentou depois que a saúde do avô definhou após a morte de sua segunda mulher, Joan McCarthy, em 2014. Morreu de amor, portanto, aquele que foi um dos mais eficientes durões de sua época. Kennedy fez incontáveis westerns e policiais. Entre filmes e participações em séries de TV foram mais de 200 títulos ao longo de cinco décadas. Em 1967, ganhou o Oscar de melhor coadjuvante por Rebeldia Indomável, de Stuart Rosenberg. O astro Paul Newman também foi indicado por seu papel de presidiário rebelde numa penitenciária da Flórida. Kennedy era o preso que mandava nos demais. Newman viu o colega ganhar a estatueta. Kennedy merecia.
Em seu necrológio, o The New York Times escreveu que Kennedy foi “um dos atores mais versáteis” e que “representou personagens duradouros no cinema e na TV”. Ele começou tarde no cinema. Fez a guerra no front da Europa e permaneceu no exército, no departamento de rádio e TV. Foi seu trampolim para os filmes. O ator e produtor Kirk Douglas foi seu padrinho. Fez um papel não creditado em Spartacus, de Stanley Kubrick, e outro maior em Sua Última Façanha, de David Miller, ambos produzidos por Douglas. Foi um dos bandidos que perseguiam Cary Grant e Audrey Hepburn em Charada, de Stanley Donen, um dos militares de A Primeira Vitória, de Otto Preminger.
Quem viu Os Filhos de Kate Elder, de Henry Hathaway, guarda na lembrança a imagem – ele vai emboscar John Wayne, mas o Duke, precavido, o derrubava com uma paulada no meio da cara. Kennedy era bom de briga, mas, eventualmente, fazia rir – na série Corra Que a Polícia Vem Aí. Em outra série, a de disasters movie Aeroporto, conseguiu sobreviver em todos os filmes. E, na TV, fez Sarge, The Blue Knight, Dallas e Wings (como ele mesmo). Em 2011, publicou sua autobiografia – Trust Me/Confie em Mim. Nós, o público, podíamos desconfiar dele quando fazia o bandido, mas nunca do ótimo ator, que sempre foi.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.