Um Caetano Veloso magricela com ares de bicho grilo é surpreendido pelos flashes de Marisa enquanto brincava na praia com Zezé Motta. Ela era a lente da Tropicália. Marisa Alvarez Lima ganhou o epíteto de mítica por muitas razões, dentre elas a repercussão de seus retratos de artistas, como Erasmo Carlos, Maria Bethânia, Gal Costa e o próprio (e cabeludo) Caetano.
Aos 25 anos, Marisa deu o pontapé inicial na carreira e começou a colaborar com a revista O Cruzeiro, uma das mais cultuadas publicações cariocas do século passado. Dentre todas as movimentações do Rio de Janeiro, ela acompanhou o nascimento da Tropicália e fotografou seus ângulos de forma privilegiada. Segundo revelou o colunista Ancelmo Góis, de O Globo, a fotógrafa morreu em casa em decorrência de um câncer no intestino.
Como jornalista, Marisa colecionou entrevistas com os criadores do movimento, como Wally Salomão e fez perfis de artistas plásticos ligados ao neoconcretismo, como Hélio Oiticica, que fundara ano antes, em 1959, o Grupo Neoconcreto, com Amilcar de Castro, Lygia Clark, Lygia Pape, entre outros. Habitué da cena intelectual e artística no Rio de Janeiro, Marisa fotografou a ebulição daquela juventude que queria romper padrões estéticos rígidos e sisudos, jogando luz na contracultura que nascia debaixo de seu nariz, que virou livro, Marginália, publicado em meados da década de 1990, uma coletânea de artigos que virou raridade, reunido perfis que Marisa escreveu na imprensa carioca.
Bem arranjados, ela ambientou uma atmosfera mítica nas capas de disco que fez, como no álbum Mel, de 1979, em que cantora Maria Bethânia aparece de perfil, como nos versos de Cheiro de Amor: E meio louca de prazer lembro teu corpo no espelho/ E vem o cheiro de amor, eu te sinto tão presente…/Volte logo meu amor. Para Bethânia, Marisa fotografou outros belos álbuns, como Alteza, Pássaro Proibido e As Canções que Você Fez Pra Mim.