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Morre o cineasta italiano Franco Zeffirelli

Franco Zeffirelli e Francesco Rosi foram assistentes de Luchino Visconti em Belíssima, de 1951. O cinéfilo lembra-se – Anna Magnani, querendo transformar a filha em atriz mirim, pergunta-se, diante do espelho, “O que é representar?” E reflete, ela que foi uma das maiores atrizes do cinema – “Eu não conseguiria (representar).” Rosi e Zeffirelli tornaram-se também diretores. Seguiram trajetórias diversas.

Rosi, com seu cinema documentado, virou um dos maiores, da Itália e do mundo. A ambição de Zeffirelli foi outra. Tornou-se shakespeariano profissional, “regista” de ópera. Tinha uma queda pelo melodrama, e, como não era Visconti, desenvolveu uma obra menor. Tinha bom gosto, sensibilidade, gostava das coisas bem feitas, mas foi-se diluindo cada vez mais.

Zeffirelli morreu nesta sexta-feira, 15, em Roma. Tinha 96 anos – quase centenário. Nasceu em 12 de fevereiro de 1923, em Florença, uma das cidades marco do Renascimento italiano. Recebeu educação esmerada. Foi cenógrafo, diretor de teatro e cinema. Gabava-se de ter sido íntimo de Visconti e Maria Callas, a suprema diva. Ganhou indicações para o Oscar (e importantes prêmios internacionais). Tentou a política, e foi senador pelo partido de centro-direita, de Silvio Berlusconi, Forza Italia. Da sua obra cinematográfica, não tão extensa – duas dezenas de títulos, incluindo as óperas filmadas -, merecem destaque:

A Megera Domada, de 1966

A primeiro Shakespeare a gente não esquece. Formatado para o casal Burton/Taylor, conta a história de Petrúquio, que se casa com a indomável Catarina. Indomável? Chamaram a atenção, na época, a suntuosidade cênica e a qualidade da interpretação. Liz, além do mais, está belíssima.

Romeu e Julieta, de 1968

Outro Shakespeare. O cinema já contara muitas vezes a história do casal de amantes, mas Zeffirelli ousou o que ninguém tinha feito – contratou atores bem jovens, Leonard Whiting e Olivia Hussey. Oscar de figurino e fotografia. A trilha de Nino Rota inclui a canção que virou hit (na voz de Johnny Mathis), A Time for Us.

Irmão Sol, Irmã Lua, de 1972

São Francisco de Assis, pelo olhar de Zeffirelli, impregnado pelo espírito hippie (e contestador) da época. Belíssimo visual, belíssima trilha de Riz Ortolani, com as canções de Donovan.

Jesus de Nazaré, de 1977

Zeffirelli testava o britânico Robert Powell para ser seu Judas quando descobriu que havia descoberto seu Cristo. Interessante paradoxo. O filme é bem mais complexo do que parece. É sobre o Verbo (divino).

Amor sem Fim, de 1981

Uma espécie de Romeu e Julieta em versão moderna. Brooke Shields e Martin Hewitt amam-se, mas… Talvez, se Zeffirelli trocasse Hewitt pelo jovem Tom Cruise, que também estava no elenco – num papel pequeno -, o filme saísse melhor.

La Traviata, de 1982

Talvez o mais famoso “filmópera” de Zeffirelli. A ópera de Verdi, cantada divinamente por Teresa Stratas e Plácido Domingo. Prêmios Bafta, o Oscar inglês, de figurinos e direção de arte.

Chá com Mussolini, de 1999

Zeffirelli, gay de carteirinha, e suas homenagem às “tias”. Inglesas excêntricas adotam garoto italiano, a quem querem transformar em lorde inglês, sob o fascismo. O filme tem algo (muito?) de autobiográfico, e que elenco – Joan Plowright, Judi Dench, Cher, Maggie Smith e Lily Tomlin.

Callas Forever, de 2002

O testamento de Zeffirelli, um filme que merece respeito. Fanny Ardant, como a decadente Callas – permanece uma grande atriz dramática, mas está perdendo a voz – é persuadida a dublar-se no palco. Só faz a mímica, simulando a própria performance. Não aguenta. Seu canto era visceral, tinha de vir da alma. Zeffirelli e sua defesa da arte autêntica. Um grande papel para Ardant.

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