Estadão

Morte da rainha deixa desafios para Charles III

"A rainha morreu. Viva o rei!" Foi olhando para frente que a premiê Liz Truss terminou nesta quinta-feira, 8, seu discurso sobre a morte de Elizabeth II, logo em seu terceiro dia no cargo. A escolha das palavras reflete o desafio não só de seu governo, mas também do futuro monarca, o rei Charles III.

Milhões de britânicos foram dormir órfãos. Milhares se aglomeraram diante do Palácio de Buckingham para se despedir da rainha, que ocupou o trono por 70 anos, o reinado mais longo da história britânica. "A rainha morreu pacificamente em Balmoral", dizia a curta nota da Casa Real, em referência ao castelo na Escócia, sua residência de verão.

O funeral será dia 18. A coroação de Charles ainda não tem data, mas pode levar "alguns meses", segundo a Casa Real. A morte da rainha marca o fim de uma era em um país que enfrenta sua pior crise econômica em 40 anos. A inflação chegou aos dois dígitos e o custo de vida está nas alturas. Parte do problema está no reaquecimento da demanda pós-pandemia e na guerra na Ucrânia, mas é também um reflexo do Brexit.

A rainha também deixa um reino à beira da fragmentação. Enquanto os nacionalistas escoceses se preparam para um novo referendo de independência, a Irlanda do Norte escorrega na direção da reunificação com a Irlanda, caso o governo de Truss não consiga renegociar o acordo de saída da União Europeia.

Outro desafio do rei será manter unida a comunidade britânica. Sem o mesmo carisma da mãe, Charles é impopular em várias partes do mundo. O movimento republicano australiano, por exemplo, ganhou força nos últimos anos e sugeriu uma mudança do sistema de governo assim que houvesse a troca de guarda no Palácio de Buckingham.

Nascida em 1926, entre as duas grandes guerras, Elizabeth não deveria ser rainha. Desde cedo, a coroa não estava nos planos. Um dia, porém, foi surpreendida com a notícia de que seu tio, o rei Edward VIII, havia se apaixonado pela americana Wallis Simpson, divorciada, e deveria abdicar se quisesse se casar. A partir daquele momento, a linha sucessória colocava a pequena Lilibeth, a duquesa de York, na rota do trono.

<b>Mudança</b>

O rei seria seu pai, George VI. Ela tinha 10 anos e sua vida mudou. "É para sempre?", perguntou a menina, quando soube que teria de se mudar para o Palácio de Buckingham. Biógrafos contam que a possibilidade de se tornar rainha aterrorizava a garotinha.

"Ela costumava rezar à noite para que a mãe (Elizabeth, então com 36 anos) tivesse um menino, para que ela não precisasse ser rainha", lembra a historiadora Sarah Bradford. Com o tempo, ela e Margaret, sua irmã caçula, foram se acostumando com a ideia – e gostando.

A metamorfose se completou no Dia da Vitória, em 1945, quando uma pessoa diferente surgiu na sacada do Palácio de Buckingham. Ela tinha 19 anos, estava madura e havia deixado a imagem de menina para trás. Acenando ao lado do pai, Elizabeth era o futuro do Reino Unido.

Lentamente, a tímida princesa ia caindo nas graças dos britânicos. Com seus movimentos acompanhados de perto, era inevitável que surgissem, com o tempo, as primeiras fofocas sobre quem Lilibeth levaria para o altar. Ela, no entanto, já tinha um cadete da Marinha na sua alça de mira.

Quando viu Philip Mountbatten pela primeira vez, Elizabeth tinha só 13 anos. Foi em 1939, durante visita ao Royal Naval College, em Dartmouth, acompanhando seu pai. "Ele tinha 18 anos", escreveu a rainha, anos mais tarde, em carta publicada pelo tabloide <i>The Mirror</i>, em 2016.

Segundo a <i>Vanity Fair</i>, durante a visita, Philip foi convidado a tomar chá com a família real. Começava a paquera. Ele era filho de monarcas gregos, chegou a trocar cartas com a princesa durante a guerra, mas só pediu a mão de Elizabeth em 1946.

O casamento foi anunciado no ano seguinte, quando o casal apareceu em público pela primeira vez. Na mão esquerda, ela levava um anel de platina com seis diamantes, o maior tinha três quilates.

A cerimônia foi realizada no dia 20 de novembro de 1947, na abadia de Westminster. O convescote foi transmitido pela Rádio BBC e acompanhado por 200 milhões de pessoas ao redor do mundo. O casal recebeu 2.500 presentes e 10 mil telegramas de felicitações.

O casamento foi um dos primeiros megaeventos de celebridades. Para um país mergulhado na austeridade do pós-guerra, a festa foi uma pausa na penúria. A jovem princesa tornou-se o símbolo de uma nova geração sedenta para virar a página de um continente atormentado pela destruição.

A coroa era uma questão de tempo. Elizabeth estava no Quênia, a caminho da Austrália, em 1952, quando seu pai morreu. O rei não andava bem de saúde e ela já cumpria algumas funções reais. "Meu pai morreu cedo. Não tive preparação. Aprendi o ofício na marra", diria Elizabeth mais tarde. "Sabia que era um trabalho para o resto da vida."
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>

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