Estadão

Morte de ganhador da Mega: polícia quebra sigilos para tentar chegar a suspeitos

A Polícia Civil pediu a quebra dos sigilos bancário e telefônico de donos das contas que receberam transferências de valores do ganhador de R$ 47,1 milhões da Mega-Sena, Jonas Lucas Alves Dias, de 55 anos, sequestrado e assassinado em Hortolândia, interior de São Paulo. Além de duas transferências totalizando R$ 20 mil, os criminosos tentaram fazer um saque de R$ 3 milhões por meio de um aplicativo de mensagens. A transação não foi autorizada. A quebra dos sigilos pode revelar possíveis envolvidos na morte de Dias.

De acordo com a Polícia Civil, o milionário ficou 20 horas em poder dos sequestradores. Ele foi capturado pelos criminosos no final da manhã de terça-feira, 13, quando fazia uma caminhada, e abandonado na margem de uma rodovia que corta a cidade de Hortolândia no início da manhã de quarta, 14. O homem foi socorrido por uma ambulância da concessionária quando já estava desacordado e morreu no Hospital Mário Covas. Até a tarde desta sexta-feira, 16, nenhum suspeito tinha sido preso.

Segundo a delegada Juliana Ricci, da Divisão de Investigações Gerais (Deic) de Piracicaba, que atua na investigação com a polícia de Hortolândia, durante esse tempo, a vítima foi extorquida e torturada pelos criminosos que sabiam da sua fortuna. Imagens de uma câmera de vigilância mostram quando Dias foi levado por um suspeito a uma agência bancária para fazer saques. A investigação trabalha no sentido de identificar esse suspeito e obter novas imagens que possibilitem refazer os passos dos bandidos quando estavam com a vítima.

Conforme a delegada, os sequestradores sabiam que ele tinha dinheiro e premeditaram o crime, mas não tinham experiência em transferir numerário, o que pode indicar que não se trata de quadrilha especializada. Detalhes das investigações não estão sendo divulgados para não prejudicar a apuração do caso.

Depois de ganhar a loteria, Dias abriu uma empresa com dois sócios que já eram seus amigos. Os dois foram ouvidos pela Polícia Civil, mas não são considerados suspeitos. Segundo a polícia, o objetivo foi angariar mais informações para confirmar o rumo das investigações. Até agora, a polícia trabalha com as hipóteses de extorsão seguida de morte e latrocínio seguido de morte, já que o caso não tem característica de crime por vingança ou homicídio simples.

<b>Enterro</b>

O corpo do milionário da Mega-Sena foi sepultado na tarde desta sexta, no Cemitério da Saudade, em Sumaré, cidade vizinha. Um ônibus foi fretado para levar amigos e vizinhos ao sepultamento. Cerca de 50 pessoas participaram da cerimônia.

Conforme mostrou reportagem do <b>Estadão</b>, Dias era um homem de hábitos simples que pouco mudaram depois que ele se tornou milionário. Ele já não tinha os pais vivos, não era casado, não tinha filhos e seus únicos parentes próximos eram um irmão de 65 anos e a irmã que morava com ele.

A casa era a mesma que a família tinha antes do prêmio, no Jardim Rosolém, que apenas passou por reforma. "Luquinha", como era chamado, andava de bermuda, camiseta e chinelo, e era sempre visto pelo bairro com um saquinho de ração para os cachorros, sem a companhia de seguranças.

Nos últimos anos, ele manteve a rotina de sair para fazer caminhada pela manhã e costumava parar para conversar com os vizinhos. O milionário de Hortolândia mantinha ainda hábitos comuns, dos tempos em que trabalhava como vendedor em uma loja de material de construção, como tomar café em uma padaria e beber meia dose de conhaque em um bar do bairro. Conforme a polícia, os depoimentos já coletados de familiares e vizinhos mais próximos indicam que ele não tinha inimigos.

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