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Morte de morador de rua expõe abandono de patrimônio histórico de Guarulhos

A morte de um morador de rua dentro do casarão localizado na esquina das ruas 7 de Setembro e Felício Marcondes, no Centro de Guarulhos, expõe uma grave ferida na preservação de um dos patrimônios históricos da cidade. O corpo do homem, de 50 anos, foi encontrado em um dos cômodos da casa. Apesar de não haver indícios de violência, a morte está sendo apurada pela polícia. O local há anos vem sendo alvo de projetos que não saem do papel, principalmente depois que a Prefeitura adquiriu o imóvel por meio de desapropriação. 
 
Basta passar pelo local para perceber que a antiga casa onde morou a família do prefeito José Maurício no início do século passado virou abrigo para moradores de rua, prostituição e uso de drogas ilícitas.
 
Até o final dos anos 90, quando ainda pertencia à família do ex-prefeito, o casarão abrigava o Museu Municipal. Depois de fechado e abandonado, somente em 2012 após uma ação judicial, ele se tornou propriedade da Prefeitura de Guarulhos e foi tombado como patrimônio histórico. Porém, ele só mudou de dono. O abandono seguiu o mesmo. 
 
Segundo comerciantes da região, o casarão é frequentado diariamente por pessoas em situação de rua, usuários de drogas e travestis que utilizam o local para prostituição. “Basta sentar por alguns minutos em frente e esperar. As pessoas entram no casarão sem se importar com quem está passando, o pior horário é a noite”, disse um vendedor. 
 
Para o presidente do Conselho do Patrimônio Histórico de Guarulhos, Elmir Omar, a prefeitura tinha ciência do problema e não tomou providências para evitar a invasão do local. “Nós tivemos várias reuniões do conselho, onde estavam presentes representantes de diversas secretarias municipais, os problemas do casarão foram citados inúmeras vezes, chegamos até a encaminhar um ofício pedindo providências”, explicou.
 
Apesar de ter sido anunciado alguns projetos no passado de interesse da Secretaria Municipal de Cultura, que queria implantar no local programas em parceria com o Governo Federal e empresas privadas, o casarão é hoje de responsabilidade da Secretaria de Educação. Segundo o GuarulhosWeb apurou,  atualmente espera a restauração para receber a instalação de um Memorial da Educação da Cidade de Guarulhos. 
 
A Associação dos Amigos do Patrimônio e Arquivo Histórico (AAPAH) e o Conselho do Patrimônio Histórico devem realizar reuniões extraordinárias nos próximos dias para discutir o assunto.
 
Nesta quinta-feira (12) durante a cerimônia de inauguração do Marco da Consciência Negra, o prefeito Sebastião Almeida falou sobre o caso com o GuarulhosWeb. “É impossível o município ter um sistema de controle que impeça uma pessoa de pular o muro e entrar. Lá está fechado. Quem entrou passou por cima ou passou por baixo. Agora nós vamos continuar recomendando que as pessoas não entrem, infelizmente houve uma fatalidade não sabemos ainda é um caso que precisa ser investigado pela polícia, mas não dá para culpar o município porque alguém entrou em um lugar indevido e acabou acontecendo uma tragédia”. O GuarulhosWeb esteve no local e o portão da frente encontra-se escancarado, sem qualquer restrição de entrada. 
 
Ainda segundo o Almeida, não há previsão para que a restauração seja realizada. “Restauro é uma das coisas mais caras do Brasil, por isso que boa parte dos prédios históricos sofrem com esta questão. Nós estamos trabalhando um projeto para dar uma nova vida para aquele casarão e preservar a história da cidade”, encerrou.
 
Segundo comerciantes, além do portão, uma das portas que antes eram lacradas com tijolos foi aberta durante o resgate da vítima e não foi interditada novamente.
 
Durante o tempo que o GuarulhosWeb permaneceu no local nenhum Guarda Civil Municipal, mesmo um dia após o encontro do corpo, fazia a segurança do local ou ronda preventiva.
 
O crime
 
Um homem em situação de rua foi encontrado por um amigo, também morador de rua, já sem vida em um colchão. A vítima, José Domingos dos Santos, de 50 anos, não apresentava sinais de violência e vestia apenas uma calça jeans.
 
A testemunha contou a polícia que sentiu falta de seu companheiro das ruas e foi até o casarão, onde Santos costumava dormir e se deparou com a cena. O SAMU chegou a ser acionado pela Guarda Civil Municipal, mas constatou a morte.
 
 

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