O compositor polonês Krzysztof Penderecki morreu na manhã de ontem aos 86 anos, "após uma longa doença", segundo sua família. Nome-chave da composição erudita, ele também tornou-se célebre pela presença de sua música em trilhas de filmes como O Iluminado, de Stanley Kubrick, e O Exorcista, de William Friedkin.
Penderecki manteve relação próxima com o Brasil desde os anos 1980, comandando grupos como a Orquestra Petrobrás Sinfônica, a Filarmônica de Minas Gerais e a Osesp, que regeu em 2017, em sua última passagem por São Paulo.
Sua obra costuma ser separada em momentos distintos. Os anos 1950 são o momento da criação de vanguarda, em obras como Polimorphia. Na década de 1960, a primeira pausa e reflexão sobre esse caminho, com uma abertura para a música religiosa: é quando escreve a Paixão Segundo São João, que cai como uma bomba na Polônia comunista. Vêm os anos 1970 e, com eles, torna-se mais marcante o retorno à música do passado, repensada por meio de um filtro pessoal. Filtro que, nos anos 1980, passa a incluir ainda mais o olhar sobre a política de seu tempo, em peças como o Réquiem Polonês, que nasce a partir de uma encomenda do Solidariedade, sindicato de trabalhadores criado por Lech Walesa que negava o controle do Partido Comunista. Dali em diante, o compositor havia encontrado seu caminho, somando aos barrocos e clássicos os românticos em seu olhar com relação ao passado.
Penderecki não negava essa trajetória. Mas ressaltava o homem por trás dela. A ligação inicial com a vanguarda era uma forma de questionar as determinações do realismo soviético. O afastamento da vanguarda, por sua vez, uma necessidade individual de "não repetir a mim mesmo". E assim por diante.
"Nas diferentes vezes em que mudei de direção, não foi para trocar de dogmas", disse ao Estado em 2006. "Foi para encontrar o meu estilo, a minha música. Aquela em que me sinto honesto escrevendo. É a representação do que a minha sensibilidade sente ser necessário dizer ao público. E a mim mesmo."