De todos os grandes artistas do Renascimento, Rafael Sanzio tem um papel bem especial para a História da Arte, por conta da transição entre o uso da matemática na composição para a valorização de expressões e da graciosidade. Não por acaso, a nova exposição sobre o mestre da pintura no Brasil, que será aberta ao público no Centro Cultural da Fiesp a partir desta quarta-feira, 19, leva o título de Rafael e a Definição da Beleza – Da Divina Proporção à Graça.
Com três imagens de Rafael que nunca estiveram no País, a mostra tem como objetivo traçar esse caminho. Começa com registros históricos de estudos matemáticos que influenciaram a ideia de beleza no século 15, como os tratados de Vitrúvio e de Leon Battista Alberti e ainda uma cópia da primeira edição de A Divina Proporção, de Luca Pacioli, um tesouro de 1509 que é brasileiro, pertencente à coleção da Biblioteca Nacional. Nascido em Urbino, na Itália, em 1483, Rafael cresceu e aprendeu a pintar com essa ideia. Herdou aos 11 anos o ateliê do pai, pintor e escritor, e estudou com Pietro Perugino, cuja obra é lembrada no início da exposição.
A mostra traz toda uma seção sobre imitação, algo fundamental para o desenvolvimento técnico dos artistas na época. “A imitação era a cópia de um exemplo, um horizonte de perfeição”, afirma a curadora da exposição, Elisa Byington. “Subentende copiar o mestre, igualar o mestre e até superar o mestre, pressupõe uma evolução.” Algo em que Rafael, em sua opinião, foi bem-sucedido. “O Perugino, seu primeiro mestre, era um exemplo da antiguidade. Rafael conseguiu pegar suas fontes e criar uma linguagem própria.”
O ápice da exposição chega na seção Uma Nova Beleza, em que estão os três quadros de Rafael, três representações bem diferentes, mas igualmente graciosas, de Madonas, vindos de museus em Roma, Nápoles e Modena. São obras raras nos trópicos, principalmente por serem pintadas em madeira. “É preciso um minucioso trabalho de controle de umidade e temperatura, exigências dos museus.” A proximidade das homenagens pelos 500 anos de sua morte, em 2020, também dificultaram empréstimos, já que muitas obras já estão reservadas para o período e precisam de um tempo de descanso.
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Um dos marcos de Rafael é a importância de seu ateliê. Para difundir sua obra, o pintor contava com gravuristas que recebiam seus desenhos antes mesmo de se tornarem quadros. Dezenas de gravuras de artistas de seu ateliê estão na mostra, todas também da coleção da Biblioteca Nacional. Além disso, o trabalho de alguns de seus seguidores e alunos, como Giovanni Penni e Giulio Romano, são lembrados.
“Como a arte se apoia em modelos e elementos preexistentes, o ateliê acaba sendo um conceito e uma organização bastante natural”, acredita o professor de História da Arte Rodrigo Petrônio, da Fundação Armando Álvares Penteado. “Hoje sabemos que muitas pinceladas, desenhos e composições de Leonardo, Michelangelo, Botticelli e Brunelleschi eram de seus alunos e de membros dos seus ateliês”, ele explica. “Precisamos abandonar de uma vez por todas essa mitologia burguesa-romântica do criador genial. A noção renascentista de autoria é muito mais difusa e complexa.”
RAFAEL E A DEFINIÇÃO DA BELEZA
Fiesp.Av.Paulista, 1.313. Tel. 3146-7439. 3ª a sáb., 10h às 22h. Dom., 10h às 20h. Gratuito.Até 16/12
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.