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Mostra interativa foca no convívio familiar

Em meio à rotina de uma grande cidade, quantos paulistanos têm tempo hoje para se reunir à mesa todos os dias com a família, contar histórias para os filhos ou ensinar brincadeiras de rua para os pequenos? É na tentativa de resgatar alguns desses momentos e discutir temas como afeto, empatia, conexão e respeito no contexto familiar que a Associação Cultural Casa das Caldeiras realiza amanhã e segunda-feira uma exposição interativa voltada para todos os tipos de família.

Inspirada no e-book Manual da Família, lançado no ano passado, a mostra terá em seus 12 diferentes espaços vivências e atividades que farão pais e filhos refletirem sobre a qualidade das suas relações, além de pensar nas melhores formas de educar no século 21. “A gente vê que habilidades sociorrelacionais como escuta, percepção, empatia e respeito à diversidade são cobradas em seleções e treinamentos profissionais.

Mas essas habilidades não são desenvolvidas no trabalho, elas devem ser promovidas durante a nossa formação, no cotidiano das famílias”, destaca Karina Saccomanno, diretora da Casa das Caldeiras e presidente da associação cultural que leva o mesmo nome.

Alguns espaços da exposição reproduzirão cômodos de uma casa, como cozinha, sala de estar e quintal para brincadeiras. Nessas áreas, os visitantes da mostra terão a oportunidade de experimentar pães e cookies quentinhos, recém-saídos do forno, ouvir e contar histórias ou participar de brincadeiras antigas, como amarelinha, bambolê, pião, perna de pau e corda.

“Os pais também poderão sugerir outras brincadeiras da sua época para brincar com os filhos. Isso vai ser o mais legal da exposição. Ela não tem um percurso pronto. O resultado das atividades vai depender principalmente da participação de quem estiver lá”, diz Karina.

Outros espaços

Além dos ambientes que reproduzem os cômodos de um lar, a exposição trará experiências como uma barraca de trocas, na qual os visitantes poderão levar objetos de baixo valor financeiro, mas com grande importância sentimental, e trocá-los por objetos trazidos por outros visitantes.

Em um espaço voltado para a primeira infância, serão propostos exercícios de respiração e relaxamento. Em outros ambientes montados na Casa das Caldeiras, os visitantes ainda terão a possibilidade de escrever uma carta para si, mas que só poderá ser lida no futuro, ou relatar seus sonhos e desejos.

Trabalho prévio

Os espaços e atividades da exposição foram definidos após um trabalho feito pela associação com 65 famílias do Estado de São Paulo, tanto do interior quanto da capital. A experiência foi fruto de uma parceria da entidade com a Secretaria Estadual de Desenvolvimento Social. O projeto contou com financiamento ofertado por meio de um edital do Conselho Estadual dos Direitos da Criança e do Adolescente de São Paulo (Condeca).

As 65 famílias foram convidadas a participar de vivências parecidas com as que serão propostas na mostra. “Foram 11 meses desse trabalho. Convidamos famílias com diferentes configurações. Também fizemos atividades de sensibilização com técnicos de assistência social que atendem famílias em situação de vulnerabilidade. Tudo isso foi dando um caldo para montarmos a exposição”, conta a diretora da associação.

“Conectados”

Sentar no chão, brincar com os filhos e ouvir como foi o dia deles na escola eram, até poucos meses atrás, tarefas difíceis para a diarista Elizabeth de Paula Daniel, de 34 anos. Moradora de Itaquaquecetuba, na região metropolitana de São Paulo, ela trabalha na capital e enfrenta todos os dias três horas em ônibus e trens para ir e voltar do trabalho.

O cansaço acumulado do emprego e do deslocamento fazia com que ela chegasse em casa e quisesse apenas descansar. Sobrava pouco tempo para uma relação de afeto, cuidado e carinho com os três filhos de idades bem variadas, de 18, 14 e 2 anos.

No fim do ano passado, ela e os filhos foram convidados pela Associação Cultural Casa das Caldeiras a participar do projeto Manual da Família, que daria origem à exposição de mesmo nome que será aberta amanhã.

“Todos os domingos nos encontrávamos e fazíamos uma atividade diferente. Em um dos dias, o desafio era transformarmos algo que não usávamos mais em um objeto útil. Outro dia brincamos de amarelinha, pulamos corda. Teve uma vez que os filhos tinham de fazer massagem nos pais e os pais, nos filhos. As crianças adoraram, e a gente se sentia realmente conectado”, afirma a diarista.

Mudança

Foram cinco encontros semanais do grupo. Elizabeth conta que a dinâmica da família mudou depois que todos participaram do projeto. “Hoje, mesmo que eu chegue cansada do trabalho, paro e vou brincar e conversar com meus filhos. E vale a pena. A gente sente mais afeto, carinho, união. Antes era aquela coisa de cada um estar em um cômodo na casa, sozinho ou no celular. Isso afastava a gente.”

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