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Mostra Ocupação Person tem curadoria de Regina Jehá

Apesar de gasta, a palavra visionário ainda pode ser usada para definir algumas pessoas, entre elas o cineasta e homem de teatro Luiz Sérgio Person (1936-1976), cujo espírito empreendedor desafiou o esquema de produção predominante na época da ditadura, ao afirmar o caráter autônomo do realizador. Ele nunca dependeu da bondade alheia nem de subsídios oficiais e, mesmo assim, deixou pelo menos dois clássicos para a história do cinema nacional: São Paulo S/A (1965), retrato da crise de um jovem burguês no quadro desenvolvimentista da época, e O Caso dos Irmãos Naves (1967), parábola realista sobre a violência endêmica da sociedade brasileira. É esse artista que o Itaú Cultural homenageia na mostra Ocupação Person, que começa sábado, 20, e tem curadoria de sua mulher, Regina Jehá, e das duas filhas do diretor, Marina Person, também cineasta, autora de um belo documentário sobre o pai (Person, 2007) e Domingas, a caçula.

Person morreu jovem, aos 39 anos, num acidente de carro, voltando para sua casa em Itapecerica da Serra. Foi um dos primeiros cineastas brasileiros a ter repercussão internacional. Quando O Caso dos Irmãos Naves, sucesso de público (e crítica) no Brasil, foi exibido em Nova York, lembra Regina, um crítico do Village Voice escreveu que seu filme era melhor do que o badalado Z, do cineasta grego Costa-Gavras, ganhador do Oscar de melhor filme estrangeiro de 1970.

Comparações à parte, é fato que Person tinha como referência, ainda segundo sua mulher, o politizado diretor napolitano Francesco Rosi (1922-2015), de O Bandido Giuliano (1961), assistente de Visconti em três de seus filmes. O brasileiro estudou no Centro Sperimentale di Cinematografia de Roma, onde Marco Bellocchio foi aluno. Voltou com um domínio técnico superior à média dos cineastas brasileiros – e com curtas que revelam a influência do refinamento de Rosi e do discurso neorrealista de Rossellini, que deu aulas no Centro. Além dele, outro professor, Luigi Zampa, adotou Person como assistente de direção em Gli Anni Ruggentti (1962), sobre a falta de ética da classe dominante italiana.

Um curta realizado na Itália, Al Ladro (Pega Ladrão, 1962), sobre um pequeno furto em Roma, vai ser exibido junto aos quatro longas que ele dirigiu – além dos dois anteriormente citados, estão programados Panca de Valente (1968) e Cassy Jones, o Magnífico Sedutor (1972). A filmografia de Person é pequena: são nove filmes como autor, desde Um Marido Barra Limpa (1957), comédia sobre um marido adúltero com Ronald Golias, ao documentário Vicente do Rego Monteiro (1974), sobre o pintor modernista.

Regina Jehá explica o ecletismo do marido como fruto de sua inquietação. Por ser independente, queria testar também sua habilidade como produtor, chegando mesmo a montar uma distribuidora com Francisco Ramalho, a RPI – Reunião dos Produtores Independentes, empresa pioneira de distribuição cooperativa num cenário de extrema dependência econômica. Na época, o Cinema Novo era patrocinado pelo extinto Banco Nacional. Person e Ramalho queriam furar o bloqueio e fazer filmes de outra natureza – o primeiro chegou a comprar uma briga pública contra a hegemonia dos cinema-novistas, como comprova uma entrevista sua ao jornal nanico O Pasquim, em que ataca alguns.

“Ele ficou animado com o sucesso de O Caso dos Irmãos Naves nos EUA e tentou carreira lá”, conta Regina Person. “Queria trabalhar com Marlon Brando e Francisco Rabal no filme A Hora dos Ruminantes, mas não deu certo.” De volta ao Brasil, teve mais sorte no teatro. Criou uma sala, o Auditório Augusta, onde montou dois estrondosos sucessos: El Grande de Coca-Cola e Orquestra de Senhoritas.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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